terça-feira, 26 de novembro de 2013

Resenha: Jappeloup


Uma história sobre determinação, superação e amor ao hipismo e cavalos. Jappeloup é um filme francês lançado em março deste ano e que nos conta a vida de Pierre Durand e seu pequeno, mas brilhante cavalo, na trajetória que os consagrou campeões nas Olimpíadas de Seul, em 1988.


Dirigido por Christian Duguay, o longa começa cedo, ainda na década de 1970, quando Durand começava a dar seus primeiros passos como cavaleiro e Jappeloup nascia. Depois, acompanhamos o crescimento do cavalo e do protagonista, passando pela pausa na carreira esportiva que ele faz, a fim de dedicar-se ao Direito, seu relacionamento com e esposa Nadia, o retorno ao hipismo e aquisição do belo cavalo negro na década de 1980. O roteiro, baseado no livro Crin Noir, de Karine Devilder – irmã de Nadia -, foi escrito por Guillaume Canet, que também atua como Durand na película.

O que não falta aqui são cenas com cavalos. Se você é amante deles e do esporte, trata-se de um prato cheio. Duguay não poupa cenas com focos no rosto e corpo do animal e na utilização de câmera lenta para dar mais destaque ao mesmo, além de aumentar um pouco a emoção quando estamos em cenários de competição. Canet também dá umas pitadas de romance, uma vez que Jappeloup também mostra o relacionamento do campeão olímpico com a, também cavaleira, Nadia. Esta é interpretada por Marina Hands, que na vida real foi o primeiro amor do ator e também compartilha com ele a paixão por cavalos. Na verdade, o papel foi escrito para a atriz e sim, a química deles funciona muito bem na telona. Não é nada intenso, mas foi convincente e doce.

As partes que mostram Durand nas Olimpíadas de Los Angeles (1984) e Seul (1988) também foram muito bem feitas. A primeira é de partir o coração, pois o atleta comete um equívoco em um obstáculo e o cavalo o joga no chão, gerando sua desclassificação e anos bem difíceis até recuperar a vontade de praticar o esporte novamente. A última, por sua vez, é recheada de emoções, variando entre tomadas na Coreia do Sul, França (população vendo os jogos pela TV) e na família do cavaleiro que o assiste de perto no hipódromo. Uma observação é que o brasileiro Rodrigo Pessoa gravou as cenas mais complexas do filme no lugar de Canet.

Assim como toda adaptação, temos várias mudanças em relação aos fatos reais. Um personagem que não existe aqui, um nome diferente ali, mas isso é aceitável. O que me irritou aqui foi a alteração de algumas coisas a fim de introduzir ainda mais drama na história – como se já não houvesse o bastante. Uma delas é o pai de Durand, Serge (Daniel Auteuil), que no filme morre antes de Seul, enquanto na realidade faleceu em 2012. Outra é o fato da produção mostrar que o personagem principal não dava muita atenção a Jappeloup até antes de Seul e receber uma espécie de bronca de Raphaëlle (Lou de Laâge), responsável pelo animal. Segundo a verdadeira Nadia, Durand sempre teve uma relação próxima com o cavalo.

No entanto, o que mais me deixou nervosa no filme foi o fato de Canet ter transformado o roteiro mais em uma biografia sua do que de Pierre Durand. No início do longa, por exemplo, vemos diversas gravações do ator quando ainda era jovem e participava de competições – ele sofreu um grave acidente aos 18 anos e abandonou o esporte -; nada de Durand. O relacionamento de Pierre com o pai também foi baseado naquele que o artista teve com o seu pai. O próprio cavaleiro disse que não se reconhece no longa por causa de todas essas mudanças em sua história, apesar de elogiar bastante as atuações de Canet e o resto do elenco.

A cena mais desnecessária, típica de dramas históricos, é a que ilustra o último obstáculo de Durand antes de sua consagração com a medalha de ouro. Achei muito ridícula, pra ser sincera. Já sabendo que, se passasse do desafio, seria campeão, o personagem passa pelo salto e joga as mãos para cima ao invés de segurar as rédeas do cavalo, como qualquer competidor faria. Oi? Na hora pensei: "Afff, jura?".

No fim das contas, Jappeloup parece mais ser um filme sobre a pessoa que Canet gostaria de ter sido do que uma biografia fiel de Pierre Durand. Digo isto de todos os filmes que o francês faz, pois o considero bem fraco como ator: a personalidade dele sempre se sobressai muito mais que a do personagem, principalmente devido à sua incapacidade de expressão. Por isso que digo que, caso você queira ver um vídeo sobre o campeão olímpico sem distorções, que mostre o verdadeiro cavaleiro e sua relação com Jappeloup, procure um documentário no YouTube. O filme é uma adaptação dramática e, digamos, “canetense”, da vida do protagonista.

Em outras palavras, vale a pena conferir a película pela belíssima direção de fotografia, pelas fofas cenas românticas entre Pierre e Nadia e pelo fato de ser bem emocionante. Esquecendo os problemas sérios de veracidade, Jappeloup tem uma história muito comovente e com certeza vai lhe fazer ver os cavalos com outros olhos.





Imagem:

Reprodução/Tout Le Cine

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