Imagem: Reprodução/Geek Trooper |
Não espere um filme como o da Disney, clássico de 1991. La Belle Et La Bête (A Bela e a Fera, França, 2014) é baseado no conto original de Gabrielle-Suzanne de Villeneuve e, apesar de ter o happy ending que esperamos de um conto de fadas, possui um enredo bastante distinto. A adaptação tem falhas graves e não marca como a antiga, só que ela compensa isso em seus quesitos técnicos.
O roteiro acompanha um rico mercador (André Dussollier) e seus seis filhos, o qual perde tudo que tem após o naufrágio de três navios de sua propriedade. Ele acaba se mudando para o campo com a família e vê as coisas transformarem ainda mais quando vai parar em um enigmático e mágico castelo depois que fica perdido em uma tempestade de neve enquanto voltava da cidade pra casa. No local, ele encontra comida, bebida e praticamente todas as coisas que seus filhos haviam lhe requisitado em uma lista. No entanto, já na saída do castelo, ele pega uma bela rosa do jardim, único pedido da caçula Belle/Bela (Léa Seydoux), e se depara com uma aterrorizante criatura, a Bête/Fera (Vincent Cassel). Ela o condena à morte por tal ato e lhe dá um dia para se despedir da família.
Obviamente, ao voltar para casa e contar aos filhos o que aconteceu, Bela se sente culpada e decide ir ao castelo no lugar do pai. E aí sim o longa começa de verdade e vemos na telona o relacionamento do casal protagonista se desenvolver e culminar no desfecho que já conhecemos. Além do núcleo principal, vale lembrar que temos também os personagens coadjuvantes, os quais incluem os irmãos de Belle - destaque para as engraçadas Anne (Audrey Lamy) e Clotilde (Sara Giraudeau) - e os antagonistas Perducas (Eduardo Noriega) e Astrid (Myriam Charleins), que estão atrás de um dos irmãos da protagonista em função de uma dívida.
Qual o problema do longa? O que me incomodou foi justamente a Bela e a Fera. Em seus cerca de 112 minutos de duração, o diretor Christophe Gans não me convenceu do amor entre os dois e isso era primordial. Não sei se a quantidade de cenas foi insuficiente ou se as cenas que ambos aparecem juntos poderiam ter sido melhor aprofundadas, mas, com tudo que vemos acontecer, não acreditei que havia amor ali. A maioria dos diálogos deles é composta de discussões que terminam em briga na hora do jantar e até mesmo uma bela cena em que dançam juntos – em troca de um dia de Bela com a família –, mas que termina mal. São muito poucas as situações em que compartilham olhares ou falas doces.
O que salvou esse buraco no roteiro foi o fato de Bela ir conhecendo a história da criatura aos poucos em seus sonhos e descobrir que ele foi um príncipe no passado, condenado a viver como um monstro depois de cometer um crime contra uma entidade extremamente poderosa. Assim como nós, ela acaba se sensibilizando em relação ao personagem e começa a ter sentimentos por ele. A jovem também cria uma relação com criaturas peculiares do castelo, em cenas até divertidas e fofas, mas elas não chegam nem perto da presença e simpatia daquelas que aparecem na animação da Disney, como Horloge, Lumière e Madame Samovar.
As atuações do elenco são bem convincentes e Cassel e Seydoux interpretam seus papéis com dignidade, como de se esperar de atores da qualidade deles. O que atrapalha é o fato do enredo não ter dado oportunidade aos dois de mostrarem o quão bons são, por todos os motivos que eu disse anteriormente. Os dois franceses sabem fazer romances como ninguém, mas na adaptação de um dos contos de fadas mais importantes da história eles não tiveram a chance de mostrar isso mais uma vez.
Por que assistir então? Se por um lado o roteiro decepciona, os quesitos técnicos compensam de outro. A direção de arte, figurino, decoração, montagem e fotografia são incríveis. Você vê ali a atenção a detalhes técnicos que o cinema francês geralmente dá em suas produções, algo que os destaca no cenário mundial há muito tempo. Os belíssimos vestidos de Bela, os efeitos especiais da Fera, os banquetes no castelo, as transições de uma cena para outra e a qualidade das imagens são algumas das coisas que comprovam isso. Em outras palavras, é tudo que você espera de uma história mágica como a da Bela e a Fera; você fica encantado enquanto assiste.
A nova adaptação de Gans não é inesquecível e deixa muito a desejar no que diz respeito ao desenvolvimento do roteiro e da relação entre os personagens principais. Trata-se de um defeito que prejudica o resultado final e não dá aos talentosos Seydoux e Cassel a oportunidade de darem atuações de alto nível. No entanto, La Belle Et La Bête traz, visualmente, toda a magicidade do popular conto de fadas e torna-se, no fim das contas, um ótimo entretenimento aos expectadores.
Quem espera algo parecido ao filme da Disney de 23 anos atrás, saiba de uma vez que o que você verá aqui é completamente diferente. Não é ruim por isso, deixo claro, só é menos emocionante.
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