Imagem: Reprodução/Hacerse La Crítica |
Excepcional. Contagiante. ELETRIZANTE. Vou ser honesta: nunca fiquei tão aflita vendo um filme. Se já fiquei em um nível de agonia tão grande, faz um bom tempo. Relatos Salvajes (Relatos Selvagens, Argentina, 2014) conquistou o Festival de Cannes em maio deste ano e agora eu entendo o porquê.
Como o próprio título diz, o filme de Damián Szifrón apresenta uma série de relatos selvagens na telona, os quais exploram a raiva humana e como cada um de nós reage à ela, seja com resultados trágicos ou hilários. E sempre contados de maneira cativante, que deixa você roendo as unhas na cadeira, rindo e com o coração na mão, à espera do que vai acontecer na próxima cena.
Temos um jovem psicótico que coloca todos que odeia em um avião e com um destino surpreendente; uma garçonete (Julieta Zylberberg) que atende o homem (César Bordón) que arruinou a vida da família dela; dois motoristas (Leonardo Sbaraglia, Walter Donado) que tentam se matar após problemas em uma rodovia; um talentoso engenheiro (Ricardo Darín) que arruma confusão com o departamento de trânsito da cidade que habita; um pai (Oscar Martínez) que tenta livrar o filho da prisão depois que o jovem (Alan Daicz) atropela uma grávida e foge; e uma noiva (Érica Rivas) que descobre a traição do marido (Diego Gentile) na festa de casamento dos dois.
O longa é composto por esses seis curtas, alguns mais breves e outros mais longos, mas todos destacando o processo de absorção da raiva nos seres humanos e que pode culminar nos mais variados desfechos. É claro que em algumas histórias específicas, como a dos motoristas e do casamento, você ri muito mais com o que vê, enquanto a da garçonete e do pai super protetor o tom é um pouco mais sério, por exemplo. Só que, no fim das contas, o tom que sobressai é de humor; o diretor argentino sempre arruma uma maneira de dar uma pitada cômica.
Talvez o mais legal da película, além do roteiro, seja a identificação que temos com cada uma das histórias. É claro que a chance daquelas coisas acontecerem conosco ou com pessoas próximas é bastante pequena, já que é muita loucura num filme só; mas a chance de você se ver ali em alguns momentos, na mesma situação e com vontade de fazer o mesmo que os personagens, é enorme. Como não ficar nervosa ao descobrir que o homem da sua vida lhe trai com a colega de trabalho? Ou que a pessoa que acabou com a vida da sua família é seu cliente e ainda lhe trata mal? Ou que um rapaz mimado e irresponsável estava dirigindo em alta velocidade, atropelou sua mulher e matou ela e o filho seu que ela esperava? A raiva é um sentimento poderoso e se não soubermos controlá-la...já era.
O êxito da Szifrón vem exatamente disso, em estudar a raiva e sua capacidade de nos transformar em monstros. A abertura da produção até brinca um pouco com isso, ao apresentar os nomes dos atores e equipe de filmagem com imagens de animais selvagens ao fundo. E o fim de cada curta sempre nos surpreende. Além disso, posso dizer que, até chegarmos lá, o nosso coração bate forte e a adrenalina sobe bastante porque você fica tentando analisar a situação e ver o que vai se suceder e isso é extremamente agonizante! Ainda mais porque a direção sugere o que pode acontecer o tempo todo e você entra nesse jogo.
Relatos Salvajes é tão bom, mas tão bom, que você reage a cada cena que assiste, tenta falar com os personagens, xingá-los e, sobretudo, dá gargalhadas. Pelo menos na maioria das histórias. Um grande filme argentino e que merece indicação ao Oscar e à todas as outras cerimônias que têm categorias de melhor longa internacional. ¡Muy bien!
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