domingo, 5 de outubro de 2014

Resenha: Sin City: A Dame To Kill For

Imagem: Reprodução/100HDWallpapers

Demorou demais. Quando Sin City foi lançado em 2005, achei que sua continuação não levaria muito tempo para estrear nos cinemas, mas estava enganada. Apenas nove anos depois que Sin City: A Dame To Kill For (Sin City: A Dama Fatal, EUA, 2014) chegou aos cinemas e, desta vez, sem a participação especial de Quentin Tarantino na direção, ao lado de Frank Miller e Robert Rodriguez. O filme é tão bom quanto os anteriores, no que diz respeito aos personagens e narrativa, mas Tarantino fez falta.

O roteiro de Miller é baseado nos quadrinhos A Dame To Kill For, além de incluir a história “Just Another Saturday Night”, da compilação Booze, Broads, & Bullets, e os contos originais “The Long Bad Night” e “Nancy’s Last Dance”. Para quem viu o primeiro longa e estranhou ver a personagem Goldie (Jaime King) novamente, a explicação é que, na película deste ano, os acontecimentos de seu núcleo se passam antes de sua morte. As demais partes se passam após as da produção anterior. Além disso, aconteceram mudanças no elenco: Josh Brolin interpreta Dwight, antes interpretado por Clive Owen; Jaime Chung é Miho, antes Devon Aoki; e Dennis Haysbert substitui Michael Clarke Duncan, que faleceu em 2012.

Esclarecimentos à parte, vamos ao filme. Os personagens já conhecidos e que voltaram à telona são Dwight (Brolin), Gail (Rosario Dawson), Goldie/Wendy (Chung), Marv (Mickey Rourke), Nancy (Jessica Alba), Senator Roark (Powers Booth), Hartigan (Bruce Willis) e Manute (Haysbert). As novas caras Johnny (Joseph Gordon-Levitt), Ava (Eva Green), Joey (Ray Liotta), Kroenig (Christopher Lloyd) e uma breve aparição de Lady Gaga como uma garçonete.

No entanto, em A Dame To Kill For, os principais núcleos são os de Dwight, Nancy e Johnny. No primeiro caso, acompanhamos a história do detetive com a sedutora e perigosa Ava, uma ex-amante que lhe abandonou no passado por um homem mais rico e volta a procurá-lo. Mais uma vez, ela o coloca em apuros com seus problemas, os quais incluem um ameaçador motorista, Manute, e a polícia. No outro conto, vemos o enorme impacto que a morte de Hartigan tem na vida de Nancy, agora – quatro anos depois - uma dançarina alcoólatra e obcecada por vingança contra Roark.

Vemos também uma forte conexão entre o senador e Johnny, jovem ambicioso que vai até Sin City para se vingar dele. Até penso que essa parte em específico mereceu mais espaço e aprofundamento dos roteiristas, pois foi, na minha opinião, a mais atraente e divertida. Marv, por sua vez, abre o filme e passa por todas as histórias, afinal, é um dos personagens mais fortes da série e tem relações com quase todos os demais papéis, sejam elas breves ou longínquas. Ele não recebe uma atenção similar à do longa anterior, só que tem a presença que merece, portanto, não tenho muitas queixas a fazer.

Desde a primeira história, protagonizada por Marv, até o desfecho de Nancy, Sin City: A Dame To Kill For é um filme eletrizante. A começar pelas tramas, sempre carregadas de tensão, sensualidade, humor e violência. É difícil não se contagiar e piscar os olhos no cinema, mesmo com a previsibilidade presente nas mesmas. Se compararmos com Sin City, devo dizer que o conteúdo não é tão cativante, pois os personagens e o roteiro poderiam ter sido melhor explorados em determinados momentos, mas ele prende o expectador.

Ademais, temos uma narrativa genial, sempre envolvente, e uma fotografia espetacular. A produção foi gravada em preto e branco, assim como a anterior, e com alguns detalhes em cores mais vivas: os belos cabelos loiros de Goldie, por exemplo, os ruivos da prostituta interpretada por Juno Temple, o olho dourado de Manute ou os olhos intensamente verdes de Ava, os quais entram em destaque quando ela revela seu verdadeiro objetivo. Simplesmente um visual belíssimo. A direção de Miller e Robert Rodriguez é impecável.

Atuações? Todas de alto nível. Rourke está magnífico como Marv uma outra vez, Alba intensa como a problemática Nancy, Green com todo o seu poder francês de “femme fatale”, Booth excepcional como o cruel vilão Roark e por aí vai. Levitt traz também todo seu carisma e talento como Johnny, personagem inédito no universo dos quadrinhos e que se encaixou muito bem ali. Apesar de ter sentido a falta do enigmático Owen como Dwight, Brolin tem uma performance satisfatória.

Por outro lado, Sin City teve um desfalque essencial: um tom mais sanguinário. A principal marca do longa de 2005, ao lado da fotografia, foi a violência nos embates entre os personagens. Não que o novo não tenha, pois ele tem e muita, mas o toque de Tarantino fez falta. Você assiste ao filme como se fosse um outro qualquer de ação; o diferencial presente no anterior some aqui e isso prejudica o resultado final. Temos bastantes cabeças rolando e até um olho sendo arrancado – lembrou um pouco a cena de Oberyon em Game Of Thrones -, mas nada comparado ao doloroso desfecho de Roark Jr (Nick Stahl) em Sin City, por exemplo. Ou o de Kevin (Elijah Wood). É como se as mortes fossem apressadas demais, sem aquele banho de sangue e membros sendo arrancados; tipos de cenas que dão nojo e aflição enquanto você assiste. A conclusão da trama Nancy/Roard deixou bastante a desejar, a meu ver. Jamais teria terminado daquela maneira se Tarantino estivesse envolvido de alguma forma. Digo o mesmo em relação ao fim que Marcy (Julia Garner) teve.

A Dame To Kill For é uma boa adaptação e gostei da ousadia de Miller em adicionar duas histórias inéditas ao roteiro. De maneira geral, a película funciona muito bem e não vai decepcionar os fãs do último filme. Faltaram mais surpresas e momentos a la Tarantino, não posso negar, mas é um ótimo entretenimento.










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