quarta-feira, 4 de dezembro de 2013


Um drama comovente sobre família e passado. O tipo de filme que você pode assistir uma, duas ou até quatro vezes e não se cansar de acompanhar a história contada na telona. Isso é o que aconteceu comigo em Le Passé (O Passado, 2013). Dirigido por Asghar Farhadi, premiado com o Oscar em 2012 por A Separação (2011), o longa é um prato cheio pra quem gosta de roteiros inteligentes, duros, profundos e com grandes performances do elenco.

De forma resumida, acompanhamos a chegada de Ahmad (Ali Mosaffa) à França, a fim de finalizar o seu divórcio com Marie (Bérénice Bejo). Porém, ao chegar lá ele acaba enfrentando muito mais problemas do que imaginava, pois descobre que a ex-mulher está com um novo namorado, Samir (Tahar Rahim), e a filha adolescente dela, Lucie (Pauline Burlet), tem um sério problema com o relacionamento dos dois por causa de algo que aconteceu no passado. A pedido de Marie, ele busca conversar com a jovem a fim de descobrir o que tanto a aflige e, uma viagem que deveria rápida, torna-se cada vez mais longa e complicada.

Não vou mentir: Le Passé é puro drama. Não lembro de ter rido em nenhuma parte, apesar de alguns filmes do gênero terem cenas do tipo para quebrar um pouco o gelo. O máximo que acontece é você ver uma cena bonita e ter aquela sensação de prazer, só que nada que lhe faça gargalhar. Sinceramente? Farhadi não precisava colocar isso na película, pois realmente não cabia uma pitada de comédia ali; o enredo desenvolvido é sério e triste e não abre espaço para tal. E devo dizer que não faz falta, uma vez que a história é tão comovente e interessante - até chega a ser um leve suspense -, que você se insere ali e também quer descobrir cada vez mais qual o mistério por trás daquilo tudo.

Em suas cerca de duas horas, O Passado jamais volta ao passado através de imagens. As revelações nos são feitas somente através de diálogos; diálogos muito bem construídos e que permitem que nós tenhamos acesso aos sentimentos dos personagens por causa da maneira com que falam e expressam suas reações. As atuações de Bejo, Rahim, Mosaffa e Burlet são tão boas que o filme torna-se extremamente real, plausível. Destaco também os atores mirins Elyes Aguis e Jeanne Jestin, os quais interpretam Fouad e Léa, respectivamente. O primeiro é filho de Samir e a última é a filha mais nova de Marie. Aguis tem mais chance de mostrar seu talento, pois seu personagem tem um papel mais significante no roteiro, mas Jestin também faz bonito.

Outro ponto positivo é que Farhadi criou uma história totalmente imprevisível e que apenas nos revela tudo nos últimos instantes. É como se descobríssemos as coisas ao mesmo tempo em que os personagens e vivêssemos junto deles toda a agonia, tristeza e desespero que enfrentam. Alie isso a uma direção um tanto quanto crua e fria do diretor iraniano – a presença de cores quentes é quase que nula - e você encontra um dos poucos dramas de altíssima qualidade que são lançados nos cinemas todos os anos.

Le Passé deu a Bejo o prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes deste ano e um prêmio especial do júri a Farhadi. Não preciso nem dizer que foi merecido, certo? Farhadi por ter feito uma obra emocionante, intensa e original, além de ter conseguido dos atores performances memoráveis, e Bejo por ter dado a Marie uma interpretação de mãe, namorada e mulher bastante convincente e tocante.



Imagem:

Reprodução/Beatroute

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