sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Resenha: Only Lovers Left Alive

Imagem: Reprodução/Indiewire

Um filme de vampiros diferente dos que você já viu, pode ter certeza. Tão diferente que Only Lovers Left Alive (Amores Eternos, Reino Unido/Alemanha, 2013) nunca foi promovido como tal, mas como a história de amor entre duas pessoas que dura há séculos. Temos sangue? Com certeza, só que o que predomina na telona é o relacionamento entre Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton).

Ambientado nos dias de hoje, o longa de Jim Jarmusch nos apresenta, do início ao fim, a vida do casal, que tanta coisa viveu no passado, mas no presente vive separado pelo Oceano Atlântico. Ele vive em Detroit, nos Estados Unidos, e ela em Tânger, no Marrocos. Porém, em função de uma forte depressão, a mulher vai até a casa do amado para lhe fazer companhia e eles acabam recebendo a visita indesejada da rebelde Ava (Mia Wasikowska), irmã de Eve, afastada deles há várias décadas.

Nos primeiros minutos, o diretor nos introduz à rotina de ambos, marcada por um isolamento geral do contato humano e conversas somente com pouquíssimas pessoas. Nestes casos, amigos ou os fornecedores de sangue, uma vez que eles evitam, ao máximo, ter que beber o sangue de um ser humano vivo. Por isso que eu digo que a película é única em seu gênero; não tem brigas, mordidas, estacas, alhos ou luz do sol, ou seja, quase zero de ação. Os protagonistas dormem o dia inteiro e, quando saem às ruas, é à noite. O máximo que vemos do universo vampiresco são algumas referências aos seus clichês básicos e cenas em que deliciam um copo de sangue e mostram os dentes caninos afiados.

Sim, a monotonia predomina aqui. Pode ficar um pouco chato não ver muita coisa acontecendo na telona, mas essa é a vida dos personagens principais: viver reclusos. O interessante é ver como cada um se vira em cada canto do mundo e como passam os seus dias. Enquanto Adam é um músico que coleciona guitarras clássicas - arranjadas pelo amigo Ian (Anton Yelchin) -, Ava não faz praticamente nada, a não ser quando sai para encontrar o amigo, o também vampiro Marlowe (John Hurt). Somente quando se encontram que as coisas se intensificam mais, sempre com sutileza e doçura, e vamos descobrindo um pouco mais sobre o passado deles através de fotos e diálogos.

A fotografia é bastante sombria, afinal, nunca vemos a luz do sol, e o roteiro exige paciência do expectador. A trilha instrumental segue o mesmo tom, muitas vezes com uma pegada psicodélica e grunge, algo que encaixa perfeitamente com o cenário de Detroit. Essa lentidão pode desanimar os ávidos por movimento, admito.

No entanto, as atuações e a química de Hiddleston e Swinton valem a pena as duas horas de duração. Mesmo com os 21 anos de diferença entre os atores ingleses, eles convencem como os "amantes eternos". Além disso, a chegada de Eve traz um breve agito à história, uma vez que ela traz toda uma personalidade sem limites e animada. Ela é o tipo de personagem vampiresca que aparece em outros longas do gênero, doida pra curtir a vida na Terra e disposta a beber os sangues de algumas pessoas se for preciso. A única coisa que eu senti falta no roteiro foi um espaço maior justamente à Wasikowska, por ela ter dado mais vida ao filme. E as partes que ela atua são bastantes engraçadas, dando aquele gostinho de quero mais.

Quando os créditos rolam, você pensa imediatamente: "Acabou?". Antes, eu iria criticar a falta de um grande acontecimento em Only Lovers Left Alive, mas após refletir sobre o material escrito por Jarmusch, vi que seria injusto com o mesmo. A proposta do cineasta, pelo que eu entendi, é justamente mostrar um forte relacionamento amoroso entre dois vampiros, sem banho de sangue e conflitos constantes com humanos. É uma monótona, mas belíssima conexão que Adam e Eve compartilham, regada a Wanda Jackson, Kasbah Rockers e Charles Yang. E com direito a uma dança inesquecível, ao som de "Trapped By A Thing Called Love", de Denise Lasalle.










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