sábado, 15 de novembro de 2014

Resenha: Tim Maia

Imagem: Reprodução/Cinema Marcado

Tim Maia é um dos maiores cantores que o Brasil já teve. Personalidade igual a dele, voz igual a dele e talento para compor não existem; ele era único. No entanto, a biografia cinematográfica do artista mostra muito mais do que sua vida artística. Você vai conhecer também Sebastião Rodrigues Maia e é praticamente garantido que você se apaixonará por ele.

Com direção de Mauro Lima, o filme já começa mostrando o temperamento quente de Tim (Róbson Nunes/Babu Santana), quando começava sua carreira musical na banda Os Tijucanos do Ritmo, ainda adolescente. O roteiro de Lima e Antônia Pellegrino chega a mostrar brevemente a vida que ele tinha, ainda garoto, como entregador de comida para sua mãe, mas somos levados ao mundo da música rapidamente. A partir daí, passamos pela formação do The Sputniks no fim da década de 1950, ao lado de Roberto Carlos (George Sauma), a passagem dele pelos Estados Unidos, seguida de sua deportação para o Brasil, o seu estouro em 1970 e todo o sucesso e problemas pessoais que ele teve nos anos seguintes, culminando em sua morte em 1998 (reprodução quase que idêntica do show que aconteceu em março daquele ano no Teatro Municipal de Niterói).

Além do rei, personagens importantes aparecem na adaptação, especialmente Paulo Stella (Cauâ Reymond) e Janaína (Alinne Moraes). Este foi amigo de Tim por 30 anos e esteve com ele em momentos importantes de sua vida, em seus altos e baixos, e é ele quem narra o longa (na voz de Reymond, é claro). A mulher, por sua vez, nunca existiu. Na realidade, o compositor teve dois grandes amores: Janete e Geisa, esta com quem teve dois filhos e um adotivo. Janaína é como se fosse uma mistura das duas, portanto, uma pessoa essencial na história do cantor na telona. Os pais e um dos filhos aparecem também, mas bem pouco; o foco são suas relações com os dois nomes citados anteriormente e suas músicas (vale destacar que Mallu Magalhães aparece como Nara Leão, Tito Naville como Erasmo Carlos e Luis Lobianco como Carlos Imperial).

É claro que, como em qualquer cinebiografia, os roteiristas tiveram que focar em determinados fatos e alterar ou deixar de fora outros. Por exemplo, ele foi aos EUA ainda adolescente, fez parte da banda The Ideals e foi preso mais de uma vez, mas o filme só relata uma prisão e uma cena mostra ele exibindo os seus dotes musicais na cadeia. Além disso, ele seria candidato ao Senado nas eleições de 1998, mas isso não foi informado. Por outro lado, a composição de “Não Vou Ficar” para Roberto Carlos é detalhada, assim como seus problemas enormes com drogas e bebidas alcoólicas, shows e a influência da Cultura Racional, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, a qual culminou nos discos Tim Maia Racional Volumes I e II.

De maneira geral, o diretor soube construir bem a linha do tempo do brasileiro, contou com uma equipe de figurino e maquiagem excepcional e reuniu os momentos mais marcantes de sua trajetória. E o mais legal é que a produção consegue, através de diálogos e das excelentes atuações do elenco, mostrar, nem que seja parcialmente, quem foi Tim Maia. Não só como músico, mas como ser humano. Ele tinha um temperamento quente, perdia o controle de suas atitudes quando se drogava e bebia, personalidade forte e arrumava encrenca com muita gente, mas tinha um coração bom, soube aproveitar a vida, mesmo com seus excessos, e era muito, mas muito engraçado. O resultado é tanto dramático quanto cômico. Ou seja, você vai dar boas gargalhadas assistindo à vida de Tim.

As únicas coisas que não aprovei foram Nunes dando vida a Maia quando adolescente, uma vez que o ator tem mais de 30 anos; a ausência de seus três filhos no roteiro, já que eles são essenciais na vida de qualquer pessoa e mereciam pelo menos ter tido um espaço maior; e a interpretação de Roberto Carlos. Sauma é um bom ator, mas sua performance ficou caricata demais, difícil de ser levada a sério. Não gostei disso.

Levando em consideração os prós e contras, digo que essa empreitada de Mauro Lima deu certo. O produto final é de altíssimo nível, pegando os principais acontecimentos da vida do artista e colocando diversos hits em sua trilha sonora, entre eles “Não Quero Dinheiro”, “Sossego”, “Ela Partiu” e “Você”. Não tem como não se contagiar com esse filme, da mesma maneira que não tem como não se contagiar com a música de Tim Maia.








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