quarta-feira, 2 de abril de 2014

Resenha: Entre Nós

Imagem: Reprodução/G1

Fazia um tempinho que eu não saía do cinema tão satisfeita. Pra falar a verdade, eu saí satisfeita e surpreendida depois que as luzes da sala se acenderam. Com base no trailer, eu já imaginava que Entre Nós (antes chamado A Pele do Cordeiro) seria um bom filme, mas ele não é bom; ele é sensacional. Desde as primeiras cenas em que somos introduzidos aos personagens ao som da belíssima “Asa do Vento”, até o desfecho, o longa de Paulo e Pedro Morelli me manteve focada na telona o tempo inteiro.

O roteiro começa com uma cena fechada no rosto de Felipe (Caio Blat). Depois de uma tragada no cigarro, os cineastas nos levam a dez anos antes, em 1992, quando ele e um grupo de amigos estavam naquele mesmo local, com seus 20 e poucos anos. Eles cantavam, brincavam, bebiam bastante cachaça e se beijavam. O trio formado por Felipe, Rafa (Lee Taylor) e Silvana (Maria Ribeiro) então, tinha uma relação bastante próxima entre si, especialmente os dois primeiros. Ambos estavam escrevendo seus respectivos livros, sempre um ajudando o outro, só que Rafa já estava no fim de seu e Felipe ainda buscava inspiração. Mas o mais importante que acontece ali é o momento em que decidem enterrar uma caixa com cartas escritas a si mesmos no futuro. Quando um acidente de carro resulta na morte de Rafa, aquelas palavras vão fazer toda a diferença no futuro.

É aí que a história começa de vez. Uma década depois, em 2002, vemos um reencontro dos amigos no mesmo lugar, a fim de desenterrar tais cartas. Porém, eles estão em situações bem diferentes e já não eram tão próximos assim. O casal Drica (Martha Nowill) e Cazé (Júlio Andrade), por exemplo, continua junto, só que em uma relação desgastada, enquanto Lúcia (Carolina Dieckman) deixa Gus (Paulo Vilhena) e acaba se casando com Felipe. Mesmo com o intuito de se verem juntos após tanto tempo, a reunião acaba evocando várias coisas do passado, como paixões e frustrações, além de um segredo antes guardado a sete chaves que volta à tona e pode complicar a vida de Felipe, agora um bem-sucedido autor: Ponto de Fissura, sua primeira e aclamada obra, era sua ou de Rafa?

Honestamente, desde o início, já fica clara a resposta a tal pergunta. Só que isso não atrapalha em nada o roteiro, pois ele explora muito mais do que esse segredo. Acho que o objetivo dos cineastas nem era construir todo um suspense ao redor disso, mas as transformações dos personagens. Nos poucos dias em que acompanhamos a vida deles, os diretores criaram diversas situações que nos ajudam a conhecê-los melhor, suas atitudes e sentimentos. Não é um estudo aprofundado de cada um; seria totalmente desnecessário perder tempo com isso. Os irmãos Morelli aproveitam o encontro dos amigos dez anos depois para nos mostrar quem cada um é através das interações que constroem entrei si, seja com brincadeiras, conversas sérias, brigas ou simplesmente uma troca de olhares.

Obviamente, cada expectador vai ter uma opinião diferente sobre os mesmos, apesar de Felipe ficar mais como uma espécie de vilão, por exemplo, e Drica ser a mais divertida e carismática do grupo. Sério, as cenas dela são hilárias e dão pitadas de humor ao intenso drama que vemos. Quem não gosta muito do gênero pode não se sentir motivado em assistir, mas Entre Nós é muito envolvente; é difícil você não se contagiar com a história contada e querer resolver todo aquele mistério e conhecer melhor aqueles personagens. Chega o fim e você ainda quer mais.

O que mais gostei aqui foi o fato de terem dividido o longa em dois momentos: primeiro e brevemente em 1992, quando tudo ainda estava bem, e depois em 2002, no mesmo lugar do ano anterior. Foi uma maneira interessante de contar a história de Felipe, Drica, Gus, Cazé, Silvana, Rafa e Lúcia. Os diálogos também foram muito bem construídos e desenvolvidos, permitindo que nós tenhamos uma melhor compreensão de cada um.

Outras coisas que se destacam na película são a trilha sonora e cinematografia de Gustavo Hadba. A canção que permeia durante toda a sua duração é o clássico “Asa do Vento”, cantado pelos personagens e depois por Caetano Veloso, já na parte final. São poucos os cineastas que conseguem tornar canções populares ou já lançadas anteriormente, em marcas de um filme. Como não ouvir “Take My Breath Away” e não se lembrar de Top Gun? Ou “Can You Feel The Love Tonight” e não vir o Rei Leão à sua cabeça? Ou “Love Is All Around” e não vir à tona Quatro Casamentos e um Funeral? E as composições de Yann Tiersen associadas à Amélie Poulain ou “Misirlou” à Pulp Fiction? “Asa do Vento” foi escolhida com primazia e ajuda a nos inserir ali. A música me marcou tanto que cheguei em casa e já fui ouvi-la; e digo que prefiro a versão do elenco do que a original!

O trabalho de Hadba não é nada espetacular ou inovador, mas é interessante ver como que ele capta as imagens do filme. Aqui, ele, junto de Pedro e Paulo Morelli, usa e abusa de planos fechados e dá espaço para o elenco se expressar propriamente. As cenas em que vemos Felipe gritar de estresse debaixo de uma cascata ou uma em que mergulha na piscina e seus olhos ficam na superfície observando ao seu redor, são excelentes. A exploração da luz e sombra em algumas cenas dramáticas com Lúcia são bastantes interessantes também.

E o mais importante em relação ao elenco: todos os sete tiveram oportunidade de mostrar sua importância naquela história. O triângulo Felipe, Rafa e Silvana pode ser o mais próximo da tragédia que guia o filme, mas houve tempo para que todos apresentassem bem seus respectivos papéis e terem momentos de destaque. Ninguém foi subutilizado.

Entre Nós é uma produção real, sincera e comovente, e que discute, sobretudo, a amizade e as relações entre indivíduos. Assista, você não vai se arrepender.











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