segunda-feira, 14 de abril de 2014

Resenha: Yves Saint Laurent

Imagem: Reprodução/Aces Showbiz

Yves Saint Laurent é um dos nomes mais importantes da história da moda. Portanto, um filme sobre sua vida deveria ser um banho de estilo, roupas belíssimas e, é claro, luxo e festas. Estamos falando de um artista que recebeu a enorme função de ser responsável pela criação da Dior aos 21 anos, sofreu bastante quando teve que servir ao Exército de seu país e depois voltou para se consagrar como designer com sua marca própria em 1962 e fazer roupas que seriam usadas por pessoas como Catherine Deneuve, Audrey Hepburn, Claudia Schiffer, Laetitia Casta e Isabelle Adjani. O filme de Jalil Lespert nos mostra um pouco sobre como foi isso tudo, mas com um destaque primordial em seu relacionamento com o companheiro inseparável Pierre Burgé (Guillaume Gallienne).

A adaptação nos mostra quem foi o estilista de acordo com a visão de seu empresário e grande amor. O verdadeiro Burgé até deu sua benção à produção - o roteiro, como qualquer adaptação, tem suas inverdades - dando acesso aos produtores a todos os arquivos do ícone fashion presentes na Fondation Pierre Bergé – Yves Saint Laurent. As roupas e desenhos são, em grande parte, as verdadeiras recordações do protagonista, e até mesmo as cenas em que vemos seu estúdio foram gravadas no local em que ele trabalhava, assim como outras feitas em sua casa no Marrocos. O ator então, Pierre Niney, é bastante parecido com YVS, dando uma performance realista e comovente do mesmo.

A história começa no ano de 1957, quando o artista está em sua casa na Argélia já fazendo desenhos para Christian Dior e revela sua atração por homens. Após essa breve introdução, finalizada por uma cena em que o vemos deitado na cama com Victoire Doutreleau (Charlotte Le Bon) e Karl Lagerfeld (Nikolai Kinski), passamos para o ano de 2009, quando Burgé resolve vender todos os quadros que ele e o parceiro tinham juntos. A partir daí, a produção começa de vez e somos inseridos com intensidade na vida de excessos que eles levavam juntos até meados da década de 1970.

O foco do longa é, principalmente, o relacionamento dos amantes e suas respectivas personalidades do que o trabalho artístico do ícone e como ele foi feito. Umas cenas específicas mostram suas inspirações, o processo de execução dos desenhos no estúdio, entrevistas e os desfiles e bastidores, mas a película é regada à vida pessoal dele. Suas discussões com Bergé e problemas com álcool, cocaína e vida cheia de promiscuidade ocupam a maior parte da produção, coisas que resultaram na separação amorosa da dupla em 1976, último ano abordado na telona e finalizado com o desfile da coleção Opéra-Ballet Russes (deixa claro que eles continuariam amigos e parceiros de negócios até a morte de Laurent em 2008). São vários os momentos em que vemos consumo de drogas e relações sexuais dos dois com outros parceiros, enquanto as partes românticas deles ficam restritas a beijos à beira do Rio Sena, troca de olhares e toques; são mais doces, em outras palavras.

Algumas transições são bem rápidas, vale ressaltar. Já no início, vemos ele ser nomeado o principal nome da Dior, depois da morte do dono da marca. Seu estresse com as novas responsabilidades e talento indiscutível - ele é chamado de gênio o filme todo - também são mostrados, culminando em seu primeiro desfile pela empresa, em janeiro de 1958. Em seguida e de forma breve, acompanhamos uma fase complicada de sua carreira, que foi o tempo em que ficou internado em um hospital militar em detrimento da sua convocação para a guerra da Argélia. As agressões e preconceito sofridos pelos colegas tiveram uma conseqüência gravíssima no estilista, ma,s com a ajuda de Bergé, ele conseguiu se recuperar anos depois de sua forte depressão. Eles até chegaram a ganhar um processo contra a Dior, pois a marca o substituiu e não o aceitou de volta, quebrando o contrato que tinham.

Pessoalmente, achei que a fase da guerra em específico poderia ter sido melhor explorada, pois apenas ouvimos Saint Laurent contar ao companheiro o que havia passado; o diretor poderia ter desenvolvido mais essa parte, seja com mais diálogos ou até mesmo filmagens de sua experiência no exército; ainda mais porque o foco do filme é sua vida pessoal e essa passagem foi muito apressada.

Por isso que digo que, de maneira geral, Yves Saint Laurent funciona mais como um estudo íntimo dele, com as figuras importantes de sua carreira - Doutreleau, Loulou de Falaise (Laura Smet) e Betty Catroux (Marie de Villepin) - e momentos marcantes, como ele posando nu para Jeanloup Sieff em 1971 ou o quadro que Andy Warhol fez dele. Vemos as lindas roupas que criou nos desfiles mostrados e as tendências criadas, mas o como fazer e seu impacto na sociedade foram pouco abordados. O roteirista podia ter mostrado celebridades vestindo suas peças ou os clientes nas lojas, em especial a Rive Gauche, com o estilo prêt-a-porter, por exemplo, o qual ele ajudou a popularizar.

No quesito elenco, as performances dos dois protagonistas são excepcionais. Niney e Gallienne interpretaram muito bem seus personagens e nos levam para o mundo de luxo e excessos deles. Os cenários e figurino também são de altíssimo nível e reproduzem com louvor as criações de Saint Laurent, entre elas jaquetas de smoking, vestidos Mondrian e as noivas que sempre apareciam no fim dos desfiles. É uma adaptação bastante fiel nesses quesitos e, se levarmos em conta que Bergé aprovou o roteiro, temos mais uma motivação para assistir ao longa de Lespert.

Porém, devo dizer que mal posso esperar para assistir Saint Laurent, versão dirigida por Bertrand Bonello e que pode não ter ganhado sinal verde de Bergé, mas conta com apoio da Kering, grupo que é dono da marca do estilista hoje. Quem sabe a película não nos dá um estudo mais completo da vida profissional de YSL e seu processo de criação, ao invés de sua louca vida pessoal e relacionamento com Bergé?












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