domingo, 27 de abril de 2014

Resenha: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Imagem: Reprodução/Facebook Oficial Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Muito mais do que uma história de amor juvenil. Se você viu o trailer ou o pôster e achou que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho era um filme adolescente e superficial, enganou-se. O filme baseado no curta Eu Não quero Voltar Sozinho, de 2011, discute e mostra muito mais do que a relação amorosa entre dois garotos. Ele mostra o descobrimento de um jovem cego e sua vontade de ser independente.


Assim como no curta, o ponto de partida do longa de estreia de Daniel Ribeiro é a chegada da Gabriel (Fábio Audi) à escola de Leonardo (Ghilherme Lobo) e Giovana (Tess Amorim). Alvo de zoações dos colegas em função de sua condição, como comentários irônicos quando sua máquina de braile faz barulho, por exemplo, o adolescente apenas tem como amiga Giovana. Ela o leva pra casa todos os dias e é sua maior confidente. Depois que o novato aparece, ambos o acolhem e começam a construir uma forte relação de amizade entre si.

A partir daí, vemos o diretor abordar problemas normais da juventude, como o consumo de bebida alcoólica, o ciúme bobo de Giovana quando percebe a aproximação dos dois, colegas infantis que tentam infernizar a vida de Leonardo – nada pesado como vemos em filmes americanos; eles são até mais engraçadinhos do que cruéis – dentro e fora da escola e, acima de tudo, o descobrimento do protagonista de si mesmo ao perceber que está se apaixonando por Gabriel, e sua vontade de deixar de depender dos outros em tudo que faz.

A película foca bastante no desejo dele de ser tratado de forma igualitária com os demais, já que muitos à sua volta, inclusive sua própria família, são excessivamente protetores em relação a ele. O garoto até procura uma agência de intercâmbio e encontra um programa específico para pessoas cegas a fim de mostrar sua determinação em desbravar o mundo e provar que pode se virar sem a ajuda de ninguém. Claro que sempre temos preocupação com nossos filhos, especialmente se eles têm alguma deficiência física ou psicológica; é normal. Mas será que tratando-os de maneira diferenciada, como indivíduos especiais, vai ajudá-los a amadurecer e, um dia, conseguir se virarem sozinhos? Afinal, os pais não vivem pra sempre e nem sempre estão por perto quando precisamos.

Porém, o que mais gostei aqui foi como Ribeiro explorou o relacionamento dele com Gabriel. Não tem nada explícito ou pesado, mas cenas doces e sutis, muito bem adequadas aos personagens e ao estilo do filme. E isso é o mais legal aqui, pois não tem nada forçado; tudo o que vemos é natural e desenvolve-se de maneira plausível. Desde a parte em que vemos Leo pegar o casaco de Gabriel que ficou em sua casa e começar a se masturbar – lembrou-me de uma cena muito semelhante de La Vie D’Adèle, quando Adèle faz o mesmo enquanto sonha com Emma -, até o banho que tomam juntos em uma excursão da escola – uma das cenas mais belas do filme -, é tudo muito bem construído.

Vemos também aqui a presença de diversos novos personagens, entre eles os pais de Leo, professores e outros estudantes, além de cenas que ajudam a nos mostrar todo esse processo de crescimento do rapaz, as quais trazem cenários que vão além de seu quarto e o colégio. Porém, de maneira, geral, essas novidades e acréscimos não mudam o que foi feito no curta. Algumas falas foram mantidas e o desfecho segue a mesma linha, portanto, nada de surpresas grandes. É como ver Faroeste Caboclo: quem ouviu a canção do Legião Urbana sabe como termina sua adaptação cinematográfica, mas vale a pena ver o filme porque ele vai muito além da letra; ele tem toda uma construção mais desenvolvida dos personagens e do desenrolar de suas vidas até aquele confronto final. Em Hoje Eu Quero Voltar Sozinha é a mesma coisa; sem o fim trágico, é claro.

Junto disso tudo, adicionamos a química do talentoso trio protagonista e os diálogos às vezes bobos, sim – temos personagens adolescentes oras! -, mas que sempre se conectam de alguma maneira com a exploração do tema da independência e sexualidade de Leonardo. Resultado? Uma produção profunda, dramática e com pitadas de humor. Exatamente do jeito que deveria ter sido adaptada do curta que conquistou o Brasil e o mundo três anos atrás. É quase impossível não ser contagiado pelo carisma dos atores e o apelo da história.












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