sexta-feira, 18 de abril de 2014

Resenha: Les Garçons Et Guillaume, à Table

Imagem: Reprodução/Unifrance

Guillaume Gallienne é o novo queridinho da França. Recentemente, o ator e cineasta de 42 anos tem sido destaque não só em seu país natal, como também internacionalmente, em função dos filmes Yves Saint Laurent e sua estreia na direção, Les Garçons Et Guillaume, à Table (Eu, Mamãe e os Meninos, França, 2013). O último, que ele escreveu, dirigiu e estrelou, foi um sucesso de crítica e público no território francês, vencendo cinco Césars em 2014. Eis o porquê.


Baseado em peça de teatro autobiográfica e protagonizada pelo próprio Gallienne, o longa é uma comédia divertidíssima. Não como Intouchables (Intocáveis, 2011), pois Omar Sy está hilário demais para ser superado; divertida por causa da história absurda que vemos na telona e as situações cômicas pelas quais o personagem principal passa. Filho de uma família rica e com dois irmãos, Guillaume é um jovem criado pela mãe como se fosse uma garota e distinguido como tal – daí vem o título! - e tem uma forte fixação por ela. Tão forte que a mulher aparece o tempo todo, na realidade ou na imaginação do rapaz, seja dando conselhos ou fazendo críticas; ele até chega a fingir que é ela em alguns momentos. Aí vem o mais legal: Gallienne interpreta ambos por causa dessa relação um tanto quanto bizarra dos dois.

Como conseqüência da criação materna, o jovem acaba se vendo como menina e, mesmo vestindo-se como garoto, começa a pensar e agir como se fosse tal. Ele usa alguns itens na roupa que são de mulheres, apaixona-se por um colega e não consegue ter uma relação de amizade com quase ninguém porque a maioria não o aceita como é. Ele precisa mudar de país, no caso a Inglaterra – obviamente, o francês aproveita para fazer alguma zoações, é claro -, para se adaptar melhor. Porém, com o passar do tempo e as dores, sofrimento e confusões em que se mete, Guillaume finalmente se encontra.

Apesar do roteiro um tanto quanto diferente, Eu, Mamãe e os Meninos é uma produção envolvente, dramática e que pode comover muita gente. Por quê? Porque ela faz uma análise profunda e interessante da relação entre mãe e filho e desenvolve muito bem o processo de transformação pelo qual o protagonista passa até descobrir sua verdadeira identidade. A meu ver, a película não tem nada, assim, de excepcional para ganhar os prêmios de melhor roteiro adaptado e filme no Oscar francês, mas acho que foi uma forma de motivar o novo cineasta promissor do país; e não tem nada de errado nisso, a não ser que a produção não fosse tão carismática; o que ela definitivamente é, em todos os sentidos.

Além da história, Gallienne acerta na direção, que oscila entre o palco onde o personagem apresenta a peça baseada em sua vida e as cenas narradas por ele. E da mesma forma que acompanhamos a mudança dele nos momentos passados, vemos o mesmo se repetir no teatro. Foi uma maneira original de apresentar o enredo e, de quebra, dialogar com a peça teatral que conquistou a França em 2008 e resultou no longa-metragem.

Os personagens também foram bem construídos, especialmente mãe e filho. Ela, por sua personalidade forte, severa e impaciente; ele, por sua ingenuidade, timidez, fraquezas e o crescimento que mostra com o decorrer dos anos. O ator fez um trabalho fenomenal dando vida a ambos.

Os coadjuvantes dividem-se nas variadas passagens em que o rapaz se aventura em locais como a escola inglesa em que estuda alguns anos, intercâmbio na Espanha e uma boate gay que visita, mas, de maneira geral, todos tiveram participação importante na vida dele. Jeremy (Charlie Anson), por quem ele se apaixona na Inglaterra, é seu primeiro amor e desilusão, enquanto a alemã Ingeborg (Diane Kruger) faz uma lavagem intestinal nele que o traumatiza por muito tempo. Grande parte das cenas é hilária, isso eu garanto!

No fim das contas, Les Garçons Et Guillaume, à Table é um primeiro filme que deixaria qualquer país orgulhoso de seu promissor diretor. Não tem nada de incrível ou inesquecível, mas é uma história que entretém, encanta e a maneira que é contada ajuda bastante nisso, assim como as performances do elenco. Vai pesar para Gallienne no futuro? Bom, não tenho dúvidas de que as expectativas serão altas na próxima película do cineasta. Normal, isso acontece quando vemos uma obra de tamanho calibre. Só espero que ele não prove, no futuro, que ela foi um acidente feliz em sua carreira ou sorte de principiante, pois, mesmo já aos seus 42 anos, o artista ainda tem talento para ir muito além.











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