quarta-feira, 25 de junho de 2014

Resenha: Alabama Monroe

Imagem: Reprodução/Rue 89 Strasbourg

Uma tragédia belga, ao som da música tradicional norte-americana. Não temos aqui um Romeu e Julieta, deixo claro. Alabama Monroe (Alabama Monroe, Bélgica, 2012) é sobre uma tatuadora e um cantor apaixonado por bluegrass, os quais se apaixonam e têm como fruto de sua relação a música e uma linda menina. Porém, tudo começa a desabar quando eles descobrem que a filha está com câncer.

Ao mesmo tempo em que o longa nos conquista com sua trilha sonora impecável, ele nos emociona com as alegrias e tristezas do casal formado por Didier (Johan Heldenbergh) e Elise (Veerle Baetens). Alegrias com o início do romance no fim da década de 1990 e os primeiros anos de vida de Maybelle (Nell Cattrysse), e tristezas com a luta que a família enfrenta por causa da doença da garota e como isso afeta todos eles. Você mais sofre do que ri, afinal, o diretor Felix van Groeningen faz questão de mostrar todo o processo de desenvolvimento do câncer, incluindo a quimioterapia, a perda dos cabelos, a fraqueza e a dor dos pais ao verem a filha passar por tudo aquilo e não poderem fazer nada além de esperar a reação dela com o tratamento.

A transformação dos personagens diante disso é retratada com dureza. O roteiro explora com profundidade as emoções de Didier e Elise do início ao fim – intensa paixão, momentos divertidos, primeiros shows juntos, dificuldades em lidar com a doença e com a filha cada vez mais vulnerável -, o que permite que você os compreenda bem e se envolva com as coisas que acontecem na telona junto deles. É muito tristeza para um casal só, mas uma tristeza real e sincera, passível de conexão com quem a vê.

Além disso, a ordem com que o cineasta belga narra os fatos é bem interessante. Ele vai e volta no tempo, sendo apenas a última cena o último acontecimento da película. No início, fica um pouco confuso até entendermos como tudo se desenrola, só que depois fica tranqüilo e conseguimos encaixar as peças aos poucos. Gostei dessa maneira de contar a história, pois o sentimento de curiosidade pra ver o que acontece com os personagens é aguçado de outra forma, a qual combinou muito bem com a complexidade do roteiro. Talvez a ordem cronológica tivesse ficado mais cansativa e dramática, especialmente porque o tom da história muda completamente com a chegada do câncer, algo que seria um baque forte demais pro público. O drama francês L’écume Des Jours, por exemplo, passa por algo semelhante e, a meu ver, prejudicou um pouco a produção e sua interação com os expectadores.

Porém, se eu tivesse que escolher uma coisa específica pra focar mesmo, seriam as músicas. As atuações de Heldenbergh e Baetens são de altíssimo nível, assim como a história, só que a trilha sonora comandada por Bjorn Eriksson é um ponto extremamente forte e se destaca mais. Ela contagia, emociona e segue o humor dos personagens no roteiro. Quando tudo está bem, percebemos uma sonoridade mais animada e quente; quando está mal, vemos a excitação diminuir e a frieza tomar conta do casal em seus shows. Ou seja, ao passo que a vida pessoal dos protagonistas se transforma, a música deles também faz o mesmo. A trilha agradou tanto que a banda do longa virou realidade e entrou em turnê na Europa, sob nome de The Broken Circle Breakdown Band.

Alabama Monroe é, sobretudo, uma história de amor entre duas pessoas e sobre família. Ela acompanha o nascimento dessa relação, suas alegrias, a criança fruto disso e o seu desmoronamento. É muita dor, sofrimento e raiva que você sente ao ver o filme, pois não é fácil, mesmo não sendo você ali, assistir tanta desgraça provocada por um câncer. Você acaba se colocando no lugar do casal e sente praticamente o mesmo que ele naquela situação. van Groeningen pega pesado e não deixa de estar certo: uma dose de realidade é boa de vez em quando. A vida é uma dádiva, sem dúvidas, mas pode nos pregar peças inimagináveis e cada um de nós reage de uma forma. Aqui, vemos isso acontecer com Didier e Elise.










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