Imagem: Reprodução/Post-Gazette |
Antes de assistir The Fault In Our Stars (A Culpa é das Estrelas, EUA, 2014), eu tive a impressão de que seria uma nova versão de Um Amor Para Recordar, clássico juvenil estrelado por Shane West e Mandy Moore. Isto porque no filme de 2002 tínhamos ambos amor e câncer na história e dois protagonistas adolescentes. Porém, assim que os créditos começaram a rolar, a adaptação de livro de John Green se saiu mais como uma mistura do anterior e de 50%, aclamado longa com Joseph Gordon-Levitt e Seth Rogen.
O roteiro é sobre Hazel Grace (Shailene Woodley), jovem de 17 anos que sofre de câncer desde os 13. A doença começou na tireoide, mas evoluiu para o pulmão, exigindo que a garota ande com um cilindro de oxigênio e uma cânula no nariz para conseguir respirar. No início da história, percebemos que ela é bastante solitária e passa seus dias vendo televisão com a mãe (Laura Dern) ou lendo An Imperial Afflection, de seu autor preferido, Peter Van Houten (Willem Dafoe). No entanto, tudo muda quando ela, após insistência da família, passa a frequentar um grupo de apoio à vítimas do câncer e acaba conhecendo Ausgutus Waters (Ansel Elgort). Ele teve osteossacroma no passado, mas depois que amputou uma perna não teve mais incidência da doença.
A forte ligação dos dois se dá de maneira rápida e natural na película. É até um pouco estranho como que os dois ficaram tão próximos assim, mas não foi nada exagerado; nas cenas e diálogos que eles compartilham, você vê que isso acontece de forma bem plausível. Além disso, mesmo com a timidez de Hazel, seria difícil resistir ao charme, alegria e energia de Augustus; nem parece que ele esteve doente um tempo atrás. Por isso que, após alguns dias juntos, ele já consegue transmitir à jovem toda sua força e vontade de viver, algo que vai transformando a vida dela aos poucos.
A partir daí, vemos os dois compartilharem livros que amam – ela, a obra de Van Houten, e ele, a ficção The Price Of Down -, fazerem um piquenique, divertirem-se com Isaac (Nat Wolff), melhor amigo do rapaz que perde os dois olhos também em função de um câncer, e viajar para Amsterdã a fim de conhecer o escritor que Hazel tanto ama. Tudo isso através de uma narração da própria protagonista.
A semelhança com Um Amor Para Recordar vem na discussão da doença e do amor entre os dois personagens principais e o fato de terem idades similares. Mas é só. Se o filme de 2002 focou mais na história de amor do casal, que vai se desenvolvendo aos poucos e transformando o rapaz rebelde que conhecemos no início do roteiro em um homem maduro e romântico, a produção dirigida por Josh Boone foca mais no câncer e em como os dois lidam com isso em suas vidas. Temos uma discussão muito mais profunda da doença, da luta da família de Hazel, das suas limitações e dor que ela causa nas pessoas por ser, como ela diz no filme, uma “granada”. No fim, acabamos vendo a transformação de ambos Hazel e Gus com os eventos que desenrolam no enredo, a qual se dá de maneira intensa e com reviravoltas, se comparamos a situação dos dois no início da trama e no desfecho.
Eu citei 50% no primeiro parágrafo justamente por causa do tom mais adulto que o longa tem, que vai muito além de um simples conto sobre jovens doentes que se apaixonam, mas que nos leva às suas dores e revolta com o mundo e eles mesmos. Sim, temos cenas bobinhas, como um beijo na casa de Anne Frank e uma salva de palmas dos visitantes ao o verem. Ninguém merece! As edições das partes em que acompanhamos conversas do casal pelo celular também ficaram muito infantis, o que, a meu ver, deu um tom desnecessariamente teen à uma história que tem potencial para ir muito além de um público adolescente.
Voltando aos elogios, também gostei bastante do papel importante que os pais de Hazel têm na história, especialmente a mãe, brilhantemente interpretada por Dern. Você sempre a vê otimista e alto-astral em relação à filha, tentando deixá-la animada com a vida. Se não fosse ela, a garota não teria conhecido Gus. Dafoe, por sua vez, deixa-nos extremamente nervosos com as atitudes grosseiras e duras de Houten, as quais, de certa forma, acabam tendo um efeito interessante nos jovens, mesmo não parecendo à primeira vista.
As minhas críticas negativas em relação à produção estão ligadas a alguns detalhes do roteiro em relação ao livro. Como toda adaptação, muita coisa foi alterada, excluída ou inventada, normal. De maneira geral, não tenho grandes reclamações a fazer, mas preciso ressaltar algumas mudanças. Uma delas é que, enquanto vemos a família de Hazel ter um espaço enorme na trama, não vemos o mesmo com a de Gus. Na obra, por exemplo, temos várias cenas e diálogos dele com os pais, os quais não aparecem no filme, além dele ter duas irmãs mais velhas que também ficaram de fora. Em função de como o enredo se desenrola, a aparição destes era de grande importância na película, só que não vemos isso acontecer. Sem contar a batalha dele com o câncer, que foi muito mal explorada, pois o foco foi majoritariamente em Hazel.
Ademais, tivemos, de ambos os lados, a ausência de personagens que simplesmente foram ignorados na versão cinematográfica: Kaitlyn, amiga de Hazel, e Caroline, ex-namorada de Gus. Quando o longa começa, pensamos que a protagonista só tem a família e o grupo de apoio, e seu par romântico apenas teve ela como grande amor. No caso dele foi ainda mais sentida a falta de Caroline, uma vez que ela morreu de câncer cerebral e teria sido interessante ver como isso afetou o jovem e sua forma de viver.
Por último, Isaac. O amigo dos personagens principais é, sem dúvidas, a alegria de A Culpa é das Estrelas, uma vez que quase sempre aparece para nos fazer rir com seu temperamento explosivo e nos surpreender com a forma com que lida com a perda da visão. Senti que o roteiro poderia ter abordado um pouco a última cirurgia dele, afinal, ela mudaria a vida dele pra sempre e ele não deve ter ficado muito feliz em ficar cego; seria um baque em qualquer um. Sem contar que Isaac é bem carismático, ou seja, mais um pouco dele não faria mal a ninguém. Wolff interpretou ele com louvor.
The Fault In Our Stars não é um filme adolescente. Jamais. É um longa para jovens, sim, mas também para adultos, especialmente famílias (seja com parentes vítimas de câncer ou não). Trata-se de uma história extremamente comovente e triste e a narradora deixa isso claro desde o começo. Portanto, se você é muito sensível, leve a caixinha de lenços porque as lágrimas virão. E deixo claro que elas não virão só porque temos aqui dois personagens que não sabem como será o dia de amanhã e tentam aproveitar a vida da melhor maneira possível; as atuações de Woodley e Elgort, e os diálogos e os desafios os quais os vemos enfrentar na telona são duros e realistas. Talvez se o marketing não tivesse focado tanto em um público jovem, assim como a edição, mais pessoas teriam se interessado em conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário