domingo, 21 de setembro de 2014

Resenha: Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo)

Imagem: Reprodução/The Scruffy Nerf Herder

Sempre soube que iria me apaixonar por esse filme. Desde que assisti a Once (2006), eu já imaginava que Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo, EUA, 2014) seria outra produção incrível de John Carney. Só a trilha sonora me conquistou completamente há alguns meses, mas ouvir suas músicas na telona é outra coisa; é sensacional. Tanto para amantes do cinema, quanto da música.



O roteiro é sobre Gretta (Keira Knightley), inglesa que vai para Nova York com o namorado Dave Kohl (Adam Levine), depois que ele ganha um contrato em uma renomada gravadora. Ela não canta como ele, mas é uma talentosa compositora. No entanto, o relacionamento acaba e ela se vê sozinha na cidade, apenas com a companhia do amigo Steve (James Corden). Tudo muda quando ela conhece o deprimido produtor Dan Mulligan (Mark Ruffalo), que se encanta com sua música e resolve investir na jovem.

Desde a primeira cena até a última, a trilha tem uma presença importantíssima no longa, uma vez que ouvimos as canções que narram as vidas dos personagens e seus sentimentos ao longo da história. Além disso, vemos todo o processo de produção de um disco, neste caso, gravado de maneira original e divertida com o brilhante Dan. Já no início, vemos Gretta cantar “A Step You Can’t Take Back”, pouco tempo após se separar de Dave, em versão acústica. Assim que o produtor é introduzido, temos acesso à sua imaginação e acompanhamos a impressionante transformação da canção com os ajustes que ele faz em seus arranjos.

Digo que a produção do álbum de Gretta é original, pois o material é gravado ao ar livre, nas ruas de Nova York, no metrô, no alto de um prédio e até mesmo em uma canoa. Mais uma prova de que, hoje em dia, ninguém precisa mais de um estúdio capacitado pra fazer um CD; se não tem dinheiro pra isso, bons equipamentos de captação de som são suficientes pra pelo menos fazer uma gravação digna. E se contar com uma pessoa como Dan por trás, melhor ainda.

No entanto, a música não é a única que merece atenção. O roteiro é bem desenvolvido e conta a história de maneira clara, utilizando do recurso de flashbacks para nos contextualizar, junto de diálogos que nos apresentam melhor os protagonistas. Vemos, por exemplo, que Dan é deprimido e alcoólatra em função de diversos problemas em seu casamento de 18 anos com Miriam (Catherine Keener), os quais os levam a se separar e ele acaba morando sozinho em um apartamento jogado às traças da cidade. Seu relacionamento com a filha adolescente, Violet (Hailee Steinfeld), também não é dos melhores, já que eles não passam mais tempo juntos como antes. Sua participação na gravadora que tem com o amigo Saul (Mos Def) é outra que sofre com a falta de dedicação de Dan.

Gretta, por sua vez, não tem a mesma atenção que o diretor irlandês deu ao produtor musical. Sabemos que ela vivia feliz na Europa com o ex-namorado e iria voltar à universidade após o término da relação. Mas é só, o resto que temos conhecimento é de que ela é uma grande compositora, simples, atenciosa e muito esperta. Pra você ter noção, ela descobre a traição de Dave após ouvir “A Higher Place”, que ele mostra a ela quando chega de uma viagem a Los Angeles. Enfim, senti falta de um maior aprofundamento na vida dela antes dos acontecimentos de Begin Again.

Apesar disso, Knightley dá uma performance excelente como de costume e construiu uma protagonista carismática e que conecta bem com o expectador. Sua química com Ruffalo, outro que faz um trabalho de altíssimo nível, também merece elogios. Eles conseguiram captar a essência de seus papéis e interagir de modo convincente na telona, com cenas comoventes e divertidas. Em uma delas, acompanhamos os dois em uma jornada por Nova York, na qual compartilham seus artistas favoritos. Como não se contagiar? Os coadjuvantes fizeram um ótimo trabalho igualmente, inclusive Levine, em seu primeiro filme como ator. E a versão que ele faz de “Lost Stars” mostra sua capacidade de transformar uma canção, antes intimista e parada, em um verdadeiro hit, só com sua voz única e a maneira que a usa na hora de interpretar a faixa.

Gostei do filme inteiro, só que preciso destacar o desfecho. Não vou revelá-lo, é claro, mas adianto que ele é surpreendente. Eu imaginava um fim bem diferente do que vi e fui pega de surpresa; uma surpresa muito boa. As sequências finais são de arrepiar e encaixaram perfeitamente com a canção escolhida por Carney. Eu definitivamente amo películas com fins do tipo, daqueles que a trilha não só tem tudo a ver com o que vemos, como terminam junto da filmagem. Quando as luzes acendem, você fica: “Uau”. E sai satisfeito (a). Muito.

Mesmo Se Nada Der Certo valeu a espera, já que desde sua exibição no Festival de Toronto de 2013 eu o aguardava ansiosamente. É uma aula de como uma trilha sonora deve ser utilizada em um filme, tornando-o ainda mais interessante e completo. E um exemplo de musical de qualidade, com músicas bem escritas e produzidas. Levine dá um show, como de se esperar, e Knightley conquista com a doçura e leveza de seus vocais. Ela não é uma revelação como cantora, mas não decepciona. Está contratada!











Nenhum comentário:

Postar um comentário