sábado, 27 de setembro de 2014

Resenha: Frank

Imagem: Reprodução/Oscar Favorite

Eu sempre soube que Michael Fassbender era um ator excepcional. Filmes como 12 Years A Slave, Shame, Hunger e Fish Tank já deixaram isso bem claro. Em cada um deles, o alemão interpreta seus personagens como se fosse seu último trabalho, dando a cada um deles uma linguagem corporal específica e uma maneira genial de se expressar. Em Frank (Frank, Irlanda/Reino Unido, 2014), ele consegue fazer tudo isso de novo, só que com uma cabeça enorme ao invés de seu rosto. E nos surpreende pela milésima vez.

Dirigido por Lenny Abrahamson, o longa acompanha Jon (Domhall Gleeson), um jovem aspirante a músico que leva uma rotina sem grandes emoções no Reino Unido. Ele vive com os pais e tem um trabalho bem rotineiro, mas seu sonho é ser um artista de sucesso. Isso se torna realidade quando encontra a banda The Soronprfbs, formada pelos excêntricos Clara (Maggie Gyllenhaal), Don (Scott McNairy), Nana (Carla Azar), Baraque (François Civil) e o líder, Frank. Com eles, o rapaz vai gravar um disco e passar por poucas e boas até o desfecho da produção.

Eventualmente, Jon consegue dar certa visibilidade ao talento de Frank e arranja um show para os Soronprfbs no Festival South By Southwest, nos Estados Unidos. É aí que ele vê que estava pisando em ovos durante o longo tempo que passou com a banda. Gravar um álbum foi cansativo e estressante para uma pessoa que esperava passar um fim de semana com os integrantes do conjunto e fazer um show; mas eles fizeram isso afastados do mundo, da vida real, e os EUA chega como um baque nos mesmos. Jon vê isso só do outro lado do Atlântico, principalmente através do surto de Frank neste novo lugar. E os colegas não têm uma reação muito distinta, que o diga Clara!

Todos integrantes têm seu quê de mistério, mas Frank bate todos de longe. A partir do momento em que entra em cena em um show do grupo, ele rouba a atenção. Não que os demais personagens não sejam interessantes – Gyllenhaal e Gleeson estão excelentes em seus papéis -, mas o que Fassbender faz com o cara é simplesmente incrível. Vendo um indivíduo com uma cabeça enorme na telona já o destacaria de qualquer jeito, não tenho dúvidas disso; só que a maneira que o roteiro o introduz aos poucos é impressionante e o ator faz isso brilhantemente em cada momento que aparece.

Sim, são muitos adjetivos, mas é difícil falar dessa atuação de outro jeito. É claro que você olha para Frank sabendo que o alemão está ali dentro e até imagina suas expressões faciais de vez em quando; normal. Só que o interessante é que, com o passar do tempo, por mais que você queira ver o seu rosto, algo muda tal pensamento: você quer mais de Frank. Você quer suas teorias musicais originais, suas inspirações para fazer música – bater a porta, botar um ovo, literalmente, correr atrás de alguém, entre outros -, a forma com que estimula os colegas de banda a criarem e por aí vai. Em outras palavras, é como se nós fôssemos Jon e nos encantássemos com o homem cada vez mais. No fim, você pensa: “esse cara devia ser famoso, devia ser conhecido no mundo todo”.

Como de se esperar, a trilha sonora é bem diferente. Explicar o som do grupo é complicado, mas diria que é uma música experimental e improvisada. Pra ser sincera, você acha as melodias bem bizarras no começo, mas, com o desenrolar no filme e o conhecimento que você tem de suas personalidades e da maneira que produzem música, tudo volta ao normal. E você pode até gostar da sonoridade dos Soronprfbs. Porém, o destaque deles é o vocalista e Fassbender conquista com sua presença de palco e vocais. Ele ainda pode trabalhar um pouquinho sua afinação, mas prova que tem bastante potencial para futuros musicais. Performance ele tem e de sobra! Definitivamente é um cantor nato e toca bem vilão e piano.

Frank é um filme esquisito, não vou negar. Nós convivemos com personagens obscuros e um tanto quanto medonhos, mas é difícil não se conectar com a história. Ela é muito bem desenvolvida pelos olhos de Abrahamson e é hilário ver a maneira que o simples Jon se mete ali no meio de tanta loucura - e não se dá bem , obviamente. O fim é bastante satisfatório, se levarmos em consideração o caminho que percorremos, e a interpretação da canção "I Love You All" é magnífica em todos os sentidos; tanto musical quanto performático.

Apesar de ter um toque de comédia, preciso avisar que a película é bastante intensa e dramática também. Muitas vezes você vai se surpreender com o que acontece ali. No entanto, se você deseja uma motivação para assistir ao filme, ela tem duas palavras: Michael Fassbender. Eu me apaixonei pelo Frank e garanto que você vai sentir o mesmo.

OBS: Frank é inspirado pelo real Frank Sidebottom, famoso personagem interpretado por Chris Sievey, mas não somente ele, deixo claro.










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