quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Resenha: Rio, Eu Te Amo

Imagem: Reprodução/Pipoca TV

Assim que terminou Rio, Eu Te Amo (Brasil, 2014), resolvi assistir novamente os dois filmes que o antecedem e que fazem parte da franquia Cities Of Love: Paris, Je T’Aime (2006) e New York, I Love You (2009). Por quê? Pra comparar as produções e ver como cada uma explora suas cidades-sede e conta suas histórias. Cheguei à conclusão de que a versão brasileira não me surpreendeu, mas também não me decepcionou.

Comparada com os enredos que vimos nos outros longas, diria que temos aqui uma semelhança maior com o de Paris. Isto, no que diz respeito ao conteúdo de algumas histórias específicas, é claro. Das dez histórias às quais somos apresentados, duas têm, digamos, um quesito fictício, algo também presente nos contos parisienses. Na cidade cosmopolita dos Estados Unidos, praticamente todas são mais pé no chão, sem elementos mágicos ou coisas do tipo.

Por outro lado, o Rio de Janeiro tem similaridades com Nova York: a conexão entre os personagens. Nem todos os atores interpretam pessoas que possuem ligações com os demais contos, mas isso acontece em alguns casos. Em Paris não tem nada disso, salvo o desfecho, que revela pouquíssimas proximidades entre os papéis.

Enfim, chega de comparação, vamos ao filme. Não vou negar que ele é divertido de assistir e comovente. As atuações também são de altíssimo nível. Como não se sentir cativado com Dona Fulana (Fernanda Montenegro), avó que sai de casa pra viver na rua e o neto (Eduardo Sterblitch) vai atrás dela pra buscar explicações? Ou com a bela história de amor dos bailarinos interpretados por Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer? Ou a relação bizarra do casal Dorothy (Emily Mortimer) e James (Basil Hoffman)?

A fotografia contribui bastante para o sucesso da película com o público, uma vez que apresenta o Rio através de diversas facetas, desde a periferia até os lugares mais chiques, desde suas belas praias, o Theatro Municipal e o Cristo, até o simples apartamento de Texas (Land Vieira) e Maria (Laura Neiva), por exemplo. Gostei muito dos enfoques que a câmera dá no rosto dos atores também, prestando atenção em pequenos detalhes que tornam a cena mais gostosa de ser assistida.

A trilha sonora, então, sensacional. Mortimer dançando ao som de Luiz Gonzaga é contagiante! Tem também Cartola, Bebel Gilberto, Gilberto Gil e por aí vai. Música boa não falta pra completar o cenário da Cidade Maravilhosa.

Por que não me surpreendeu? É claro que temos uma exceção ou outra, mas, de maneira geral, Rio, Eu Te Amo não me deixou totalmente satisfeita. Adoro de coração o francês Vincent Cassel, mas a parte dele, mesmo com a direção impecável de Fernando Meirelles, não me conquistou. “Texas”, de Guillermo Arriaga, traz uma história emocionante e extremamente dramática, mas podia ter ganho mais espaço pra vermos seu desfecho. José Padilha uniu-se a Wagner Moura mais uma vez em “Inútil Paisagem”, só que o resultado deixou bastante a desejar pela falta de mais aprofundamento do roteiro; ficou largado demais, que o diga a participação figurante de Cléo Pires (adorei ver Moura soltar os cachorros pra cima do Cristo, pelo menos).

No entanto, três histórias que me decepcionaram a ponto de afetar meu pensamento final sobre o filme foram as seguintes: “Quando Não Há Mais Amor”, protagonizada por John Turturro e Vanessa Paradis, foi mal desenvolvida e monótona, e olha que a cantora até mostra seus dotes em uma passagem; “Acho Que Estou Apaixonado”, com Marcelo Serrado e Ryan Kwanten, foi legal até o fim, no qual me aparece Bebel Gilberto de Cupido no alto do Pão de Açúcar. Ficou, no mínimo, estranho e mágico demais pro meu gosto; não colou.

Deixei “Vidigal” por último porque, nossa senhora, foi a pior de todas. Quando acabou, juro que fiquei pensando: “Como que o diretor Im Sang-soo viu isso e não percebeu que estava bizarro demais?”. Em Paris, Je T’Aime, temos uma sequência bastante similar (com Elijah Wood e Olga Kurylenko) e eu já não havia aprovado, apesar da fotografia ter ficado excepcional. No Rio, tive uma experiência chocante e hilária ao mesmo tempo. Hilária porque morri de rir, junto do cinema todo, de um conto tão irreal e estúpido. Chocante porque eu não esperava ver aquilo na telona. Tonico Pereira e Roberta Rodrigues estão excelentes, só que não salvam; nem de perto.

Eu acho a ideia do Cities Of Love genial e espero que diversas outras cidades participem. Tudo bem que algumas histórias – e isso vale para os três longas – são fracas demais, mas a qualidade de outras compensa. Além disso, é super bacana ver diretores tão talentosos se juntarem a atores do mesmo nível em espécies de curtas-metragens, cada um dando o seu enfoque e explorando a câmera de sua maneira. O resultado é atraente, muito atraente.

Não vou mentir pra você e dizer que amei Rio, Eu Te Amo porque é mentira. Digo que vale a pena conferir pelos motivos do parágrafo anterior e por causa de uma história, quer dizer, um personagem em específico: o garotinho de “O Milagre”. Cauã Antunes está impecável nessa parte, que também conta com Harvey Keitel e Nadine Labaki. E a história é magnífica; não é à toa que ficou por último. Se o filme todo tivesse sido assim...aí sim eu teria saído do cinema mega satisfeita.








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