quarta-feira, 5 de março de 2014

Resenha: Dallas Buyers Club

Imagem: Reprodução/Showbiz café

Dallas Buyers Club é mais um filme baseado em fatos reais e que tem seu roteiro modificado por motivos artísticos e de foco. Eu já disse aqui diversas vezes que não gosto de adaptações que fazem isso e não aprovo algumas coisas que fizeram aqui, mas o filme de Jean-Marc Vallée é, de maneira geral, bem desenvolvido, apurado, dirigido e, é claro, destacado pelas ótimas performances de seu elenco principal: Matthew McConaughey, Jared Leto e Jennifer Garner.


O longa conta a história de Ron Woodroof, um eletricista e cowboy de rodeio que descobre que tem o vírus HIV em 1985. Além disso, ele recebe a dura notícia de que, em função de sua saúde já em estado extremamente decadente, tem somente 30 dias de vida. Porém, com a personalidade forte e determinação, o homem começa a se informar mais sobre a doença e sobre as formas alternativas de tratá-la, uma vez que o principal medicamento da época, AZT, ainda estava em fase de teste e poucos infectados podiam usá-lo; os demais recebiam placebos da droga. A partir daí, ele busca soluções no mundo todo – e ilegais nos Estados Unidos - e monta o Dallas Buyers Club, um clube de compras em que os membros pagam para fazer parte e ganham tais medicamentos para lutar contra a AIDS em troca.

McConaughey interpreta Woodroof, enquanto Leto, por sua vez, dá vida a Rayon, um transgênero com o vírus que se torna parceiro do clube, ajuda o protagonista a conseguir mais compradores e acaba mudando o comportamento homofóbico do eletricista após a convivência entre ambos. Garner atua como Eve, uma médica do hospital que trata os personagens anteriores e que, com o tempo, passa a se envolver com eles e a se solidarizar mais com sua  luta para conseguir um tratamento para a doença. Apesar do enorme impacto de Rayon e Eve na vida de Ron, preciso falar aqui que nenhum dos dois existiu. Os roteiristas Craig Borten e Melisa Wallack entrevistaram muitas pessoas como eles e os criaram como resultado desse acúmulo de conversas. Rayon, especificamente, foi uma forma de mostrar também a transformação do homem em relação à sua tolerância com os homossexuais.

Outras diferenças são que Woodroof não montava touros, mesmo sendo um grande fã do esporte. Ele também não foi diagnosticado em 1985, mas alguns anos antes ele já havia sido informado sobre sua condição por outro médico. Porém, o filme chega a mostrar uma lembrança do personagem de um tempo atrás, na qual ele faz sexo sem proteção com uma mulher viciada em drogas intravenosas. O roteiro coloca tal lembrança como o fato que faz Ron finalmente acreditar que está com AIDS. E se você prestar atenção, verá que, quando o filme começa, a saúde de Ron já está bem ruim, ou seja, a doença já estava em seu organismo há algum tempo.

Por outro lado, muitas coisas que realmente aconteceram estão presentes na película, como o fato de Ron perder os amigos, suas viagens e disfarces – o padre é fato! - para conseguir entrar nos EUA com os medicamentos ilegais, e o processo que ele iniciou contra a FDA (Food and Drug Administration) por não ter acesso ao AZT (houve outros processos além deste, mas fizeram bem em não inseri-los, pois iriam sobrecarregar o roteiro demais).

A única coisa que me incomodou, de fato, na produção, foi o fato da família de Woodroof ter ficado de fora. Ele tinha uma irmã e uma filha, mas os roteiristas preferiram focar no personagem e as deixaram de lado. Pra ser sincera, eu achei que o filme não iria mencionar nada sobre a vida pessoal do protagonista e já estava me irritando. Em um jantar com Eve que ele chega a falar mais sobre sua família, mas foi um momento muito breve. Acho que essa exclusão foi desnecessária, ainda mais porque ele ter uma filha, principalmente, poderia adicionar ainda mais drama à história. Se Leto não estivesse tão bem, talvez nem teria sido necessária a invenção de seu personagem. Diga-se de passagem que Rayon foi melhor explorado no quesito família que o protagonista. Oi?

Como disse no primeiro parágrafo, são as atuações que carregam a adaptação. Portanto, vamos dar os devidos créditos a Valée! McConaughey vem provando cada vez mais que é um ator diversificado e adequado para qualquer gênero de filme. Ele chegou a dizer em 2013 que, alguns anos antes, ele e sua equipe resolveram ler várias críticas negativas às suas performances e isso foi bastante construtivo para ele, pois muitas coisas que foram mencionadas ele concordava. Não sei qual o impacto disso em sua maneira de atuar, mas parece que funcionou porque recentemente ele foi bastante elogiado por seu trabalho em longas como Mud (2012), Killer Joe (2011) e Magic Mike (2012). Mereceu o Oscar? A meu ver, todos os indicados deram belíssimas atuações, mas se considerarmos que o texano perdeu mais de 20Kg para o papel em Dallas Buyers Club e realmente nos comove com a interpretação do valente Ron Woodroof, falecido em 1992, chegamos à conclusão de que ele teve seus méritos. Ele está impecável praticamente no longa inteiro.

Leto também está brilhante, apesar de eu ter achado outras performances de 2013 melhores que a dele, como Michael Fassbender em 12 Years A Slave e Barkhad Fadi em Captain Phillips. A última cena dele e uma em que Ron defende Rayon de um homofóbico são extremamente comoventes. E não preciso nem dizer que  ator deu construiu um personagem bem carismático e divertido, algo que vai conquistar os expectadores. Já Garner, na minha opinião, é uma atriz bastante subestimada. Ela ainda não deu uma performance, digamos, marcante em sua carreira, mas deveria ter mais reconhecimento sobre seu trabalho. McConaughey e Leto são destaques aqui, mas ela também deveria ser incluída.

Veja Dallas Buyers Club não só pelo elenco, como também por ser a história de um homem que luta para sobreviver e que ultrapassa todos os obstáculos para ter uma vida melhor e ainda permitir que outros como ele tenham a mesma chance de batalhar contra uma das doenças mais terríveis que o mundo já viu. Vemos na telona a transformação física e psicológica que seu personagem sofre e que, apesar de serem motivadas por um fato ruim, tornaram-o uma pessoa ainda melhor.









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