segunda-feira, 17 de março de 2014

Resenha: Need For Speed

Imagem: Reprodução/Mundo Blá

Need For Speed é um filme eletrizante sobre carros. Tem Mustang, McLaren, Laborghini, Koenigseggs, Bugatti...tudo em altíssima velocidade e em cenas quentíssimas de corrida. Quem é fã do esporte e do jogo vai delirar ao ver aqueles veículos espetaculares do videogame ganharem vida na telona. Porém, parece que o foco do filme de Scott Waugh foi apenas isso; a história por trás disso tudo ficou de lado nas pouco mais de duas horas de duração do longa.

Nos primeiros minutos, já conseguimos entender do que se trata: temos Tobey (Aaron Paul), um ex-piloto que é proprietário de uma oficina no estado de Nova York, mas passa por dificuldades financeiras com seu negócio. Do outro lado, temos Dino (Dominic Cooper), rival de longa data do rapaz, que teve uma carreira bem-sucedida internacionalmente. Ele negocia com Tobey a finalização de um Shelby Mustang clássico em troca de 25% do valor de venda do carro, dinheiro que pode salvar a oficina. Porém, em função da ambição dos dois pilotos e da covardia de Dino, uma tragédia resulta na prisão de Tobey e, após cumprir sua pena, ele retorna para vingar o rival de vez na disputada De Leon.

Isso é apenas um resumo, pois na meia-hora inicial acontece bastante coisa na película, tudo sempre com carros envolvidos. A parte principal do roteiro, que é a perigosa e milionária corrida De Leon, apenas acontece no fim, já que grande parte da história é acompanhar o percurso difícil que Tobey e os amigos enfrentam até chegar à Califórnia, local de realização da prova. Isto porque Dino faz de tudo para impedir que o rival chegue à competição, assim como a polícia, que tenta prender o piloto por causa de sua imprudência atrás do volante.

Ação não falta aqui; na verdade, ação sobra em Need For Speed. Por isso que eu falei no parágrafo inicial que os fãs do gênero e do famoso jogo vão aprovar a adaptação. O que mais vemos são carros extremamente potentes andando pelas rodovias e ruas norte-americanas, fazendo manobras arriscadas em alta velocidade e, é claro, passando por momentos bem sacados, como voar por cima de carros para fugir da polícia, encher o tanque de gasolina com o carro em movimento e até prender um veículo nas cordas de um helicóptero após uma longa perseguição. Não vou negar: é divertidíssimo assistir e você fica tão tenso quanto os personagens vendo aquilo, mesmo sabendo que os protagonistas são invencíveis.

Falando nos personagens, eles são um ponto positivo do filme. Com exceção de Dino e Anita (Dakota Johnson) – quase figurante -, Tobey, Julia (Imogen Poots), Benny (Scott Mescudi, aka Kid Cudi), Joe (Ramón Rodriguez), Finn (Ramy Molek) e Monarch (Michael Keaton) são carismáticos e acrescentam um grande humor a todo o drama e rivalidade entre os dois protagonistas. Keaton está hilário como o DJ e organizador da De Leon, enquanto Molek e Mescudi conquistam com suas cenas e diálogos bobos, mas bem engraçados. Paul e Poots, par romântico da produção, também estão ótimos e, felizmente, não dividem cenas melosas e irritantes. Sendo sincera, o filme é tanta correria que nem dá tempo deles darem beijinhos ou algo mais; os roteiristas levaram mesmo a sério o título do jogo!

É aí que vem o maior problema e defeito de Need For Speed: desenvolvimento dos personagens. As cenas sacadas já eram de se esperar, mas a superficialidade dos papéis é realmente irritante. Como o filme é praticamente ação em 90% do seu tempo, temos pouquíssimos diálogos significantes e profundos e nunca sabemos quem são, de fato, aquelas pessoas. O passado de Tobey e Dino é brevemente apresentado no comecinho do longa, enquanto a britânica Julia mostra que é muito mais do que uma bela jovem que usa sapatos Gucci no percurso até a Califórnia – mas fica só nisso. Não é possível compreender porque eles são daquele jeito ou fazem o que fazem; fica apenas a imagem de que os caras da oficina têm bastante humor e companheirismo (btw, Benny pilota avião, helicóptero de exército, de televisão, e também não sabemos como ele faz isso), Dino é um homem ambicioso demais e mau caráter e Tobey é um pobre coitado que ficou preso dois anos e busca se vingar do rival com as mãos no volante, ou seja, através da arte de correr, como diria Monarch.

Já que falei sobre a prisão, algo que não o personagem, mas o filme em si coloca para nós, é que Dino é o maior culpado pelo acidente que acontece no início. Gente, quando você disputa um pega em alta velocidade com outras pessoas, sabe dos riscos. Ou seja, se acontece algum acidente, os culpados são todos, inclusive a vítima fatal, caso haja. Tobey paga na prisão pelo seu envolvimento e Dino consegue se livrar por covardia, mas o longa de Waugh deixa a impressão de que o único culpado ali foi o vilão e o outro fosse uma vítima também. Por mais que o bonzinho reforce que quer se vingar não por ter sido preso, mas pelo fato do outro ter abandonado a cena do acidente, fica clara a divisão: Tobey herói/Dino monstro. Mas tem que ter, né? Precisamos de um herói para salvar o dia; afinal, estamos falando de Hollywood pessoal!

Bom, eu recomendo Need For Speed para os aficionados por velocidade e carros belos e potentes; é um ótimo entretenimento, sem dúvidas. Ele acerta nas cenas de ação, insere a dose certa de romance e tem personagens carismáticos, os quais podem ser melhor explorados em continuações. Ah, já contei que nós até vemos eles jogando o game em uma cena?

Por outro lado, o roteiro erra feio em desenvolver os protagonistas e tem algumas cenas sem sentido, daquelas que você, na hora, morre de rir e se diverte, mas depois reflete e pensa: “Peraí, como isso foi possível?”. As manobras podem ser sacadas, não tem problema, mas tem coisas que não dá pra deixar passar batido. Reconheço que os produtores são espertos, pois é difícil prestar atenção nisso em meio a tanta adrenalina, só que, por favor, é possível criar histórias mais convincentes.





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