sexta-feira, 9 de maio de 2014

Resenha: Divergent

Imagem: Reprodução/Boomstick Comics

Imagine um outro The Hunger Games, mas piorado. Divergent é uma ficção interessante, só que nunca chega a decolar em função da falta de profundidade de seus personagens coadjuvantes, em especial os vilões, e da mensagem bobinha que fica no fim. É mais um entretenimento temporário, que pouco tempo depois você esquece e só vê de novo quando lançarem a continuação.


Baseada em livro de Veronica Roth, a história é ambientada em uma Chicago pós-apocalíptica, depois que uma guerra destruiu a sociedade e os sobreviventes resolveram inventar um novo modo de organização, em busca de manter a paz. O método escolhido pelos fundadores é dividir os indivíduos em facções: Abnegação, Amizade, Erudição, Audácia e Franqueza. Ao completar 16 anos, cada um deve fazer um teste para escolher sua facção, mas também pode optar por escolher outra se quiser. Caso não se encaixe no novo lar, torna-se um sem-facção e vive nas ruas. Como a cidade fica sob proteção intensa, nunca sabemos o que tem fora das fronteiras de lá; isso vamos ver nos próximos longas.

Ok, vamos ignorar o fato de que, como sempre, só os Estados Unidos sobra e o resto se lasca. O roteiro aqui acompanha Tris Prior (Shailene Woodley), jovem que, ao fazer o teste de facção, recebe a notícia de que é Divergente, ou seja, não se encaixa em nenhum grupo específico, mas em todos. Isso acaba por colocar sua vida em risco, já que a sociedade em que vive prega que cada um deve ter características específicas de uma facção; aqueles que não se enquadram, são eliminados. Em decorrência disso, ela resolve ir para Audácia, só que vai ser difícil se manter lá sem que descubram quem ela pe, ainda mais porque Chicago corre o risco de sofrer um golpe de estado e este começa bem perto dela.

Ao contrário de Hunger Games, em que vemos o roteiro explorar bem os personagens de maneira geral, Divergente só foca na protagonista Tris e o líder de sua equipe na Audácia, Four (Theo James). Não que os papéis dos demais não fiquem claros; nós compreendemos a ligação de cada um na história e entre si, mas fica muito superficial. O filme se resume a muita ação e o desenvolvimento da relação dos dois, que, aliás, é previsível desde o começo. É a clássica relação que começa mal e depois ambos se apaixonam. Clichê. E a química de Woodley e James não é lá essas coisas, talvez pela diferença de idade deles – dez anos quase -, não convence muito.

Além disso, quando eu disser a seguir o elenco coadjuvante, você vai concordar comigo que seus personagens foram mal aproveitados quando assistir: Kate Winslet, Maggie Q, Ashley Judd, Tony Goldwyn, Mekhi Phifer. Eles aparecem bastante pouco, especialmente a primeira, que é a vilã principal, Jeanine (e pelo que eu li sobre o livro, ela tem uma presença bem menor nele, ou seja, os roteiristas deram mais cenas para Winslet). Vilões merecem espaço e aqui eles não têm praticamente nenhum. E convenhamos: do que adianta um filme de ficção e ação se não entendemos direito quem é o vilão, quais os seus sentimentos, histórias, justificativas? Não adianta saber apenas quem ele é; é importante entendê-lo. Eu, pelo menos, não captei isso na adaptação. E era meu sonho ver Winslet em um papel de má, fiquei um pouco decepcionada, à la Jodie Foster em Elysium. Os demais também são prejudicados no mesmo sentido; em algumas cenas chegamos a questionar o porquê deles fazerem certas coisas, já que não tivemos conteúdo suficiente pra colocar os pingos nos “is”.

Outra coisa são as diferenças entre livro e filme. Não foram tão graves, a meu ver, pois é um detalhe aqui e outro ali; nada que mude a história toda. A única adaptação que eu acho que prejudicou a produção dirigida por Neil Burger foi a maior suavidade do roteiro. Peter (Miles Teller), por exemplo, é muito mais cruel na obra do que no longa. Nós odiamos ele, preciso deixar claro - o ator é muito bom -, mas o personagem é bem pior nas palavras de Roth. As coisas repugnantes que ele faz são resumidas em diálogos irônicos e duros e uma ou outra cena de luta, enquanto no livro ele faz muito mais do que ser grosso com suas falas.

A violência também foi bastante reduzida, apesar de termos algumas cenas muito boas. Temos partes de combate mais curtas e menos, digamos, chocantes. Parece que tem gente levando facada no olho e caindo de prédio na fase de treinamento da Audácia e no filme não tem nada disso. As mortes também são mais rápidas e pouco detalhadas, o que não permite aquele contato maior com a história, aquela identificação mais intensa com os personagens. Jogos Vorazes mostra muita cena pesada e cruel de morte e isso ajuda a nos infiltrar naquele mundo violento.

A mensagem óbvia que fica no final é que a realidade daquele mundo pós-apocalíptico é bizarra e o mundo não precisa ser dividido em facções para ter paz. Nossa, que surpresa, os Divergentes não precisam morrer! O fato de uma facção querer subir ao poder através de um golpe é prova de que a paz não é possível ali.

Por isso que digo que Divergent é mais um filme para pessoas que apenas buscam um bom entretenimento mesmo, nada muito profundo. Talvez o fato de terem deixado a adaptação mais leve em termos de ação e com pouca atenção aos coadjuvantes tenha prejudicado o resultado final, que poderia ter sido mais atraente e eletrizante. E já adianto: parece que o longa não acaba nunca, uma consequência da falta de apelo.











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