Imagem: Reprodução/Flicks And Bits |
Esqueça The Avengers ou qualquer outro filme de super-herói. Bryan Singer juntou um elenco estelar e fez jus ao talento reunido no brilhante X-Men: Days Of Future Past (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, EUA, 2014). Três anos depois de um surpreendente X-Men: First Class, o diretor colocou em um só filme personagens do longa anterior e aqueles que começaram a franquia da 20th Century Fox nos anos 2000. Além disso, contou uma história eletrizante e inteligente, sabendo equilibrar cenas de ação e o desenvolvimento dos personagens no enredo.
A cena de abertura do longa já é sensacional. Em um futuro sombrio, no qual os Sentinelas haviam devastado não só grande parte dos mutantes, como também os seres humanos, acompanhamos Kitty Pride (Ellen Page), Bishop (Omar Sy), Blink (Bingbing Fan), Homem de Gelo (Shawn Ashmore) e Colussus (Daniel Cudmore), entre outros, em uma fuga diante de aterrorizantes robôs, praticamente impossíveis de serem destruídos. Após uma acirrada luta, eles conseguem encontrar Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Tempestade (Halle Berry) e Wolverine (Hugh Jackman) e partem para um esconderijo secreto dos X-Men em Moscou.
Na Rússia, através dos poderes de Kitty, eles enviam Wolverine de volta ao ano de 1973 – 50 anos antes -, quando Mística (Jennifer Lawrence) assassina o cientista Bolivar Trask (Peter Dinklage) e isso desencadeia todos os acontecimentos que levam à extinção de praticamente toda a humanidade no futuro. Porém, será um trabalho árduo evitar o crime, uma vez que, além de ter que lidar com um Professor X (James McAvoy) deprimido e sem poderes, ele deve resgatar Magneto (Michael Fassbender) de uma prisão super protegida no Pentágono e ainda deve cumprir sua missão o mais rápido possível, pois os Sentinelas de 2023 vão encontrar o esconderijo mais cedo ou mais tarde e isso pode comprometer o plano.
Sim, o roteiro é fenomenal e bastante angustiante. Pra quem conhece o quadrinho no qual é baseado, já adianto que diversas mudanças foram feitas, inclusive o desfecho. Porém, são alterações que se encaixam perfeitamente com o cenário e os personagens presentes ali e que, obviamente, resultam em um filme de super-heróis que todos nós sabemos como termina. Só que a previsibilidade do fim não atrapalha em nada a película incrível que Singer comandou. Vou dizer o porquê.
Primeiramente, as cenas de ação são memoráveis e bem construídas, com efeitos especiais de tirar o fôlego. Em alguns casos elas são hilárias, como quando vemos Quicksilver (Evan Peters) libertar Magneto com seus poderes de velocidade e fazer uma graça com seu jeito rebelde (a mistura de câmera lenta com a sagacidade do jovem e a trilha sonora ficaram perfeitas). Até chegamos a sentir falta dele depois, já que sua participação fica limitada aos primeiros minutos da filmagem.
Por outro lado, as partes que mais se destacam são as sequências eletrizantes do futuro, que chegam a dar medo em alguns momentos – os Sentinelas são aterrorizantes e o cenário também não é nada amigável -, e a cena em que Magneto levanta o Robert F. Kennedy Memorial Stadium em Washington. Nessas horas você compreende o orçamento de $ 200 milhões da produção da Fox.
Outro ponto positivo é que as batalhas são coerentes e lógicas, nada sacado demais ou que faça o público questionar: “Nossa, até parece!”. É tudo muito bem construído, com exceção do fim, que acaba caindo naquele clichê de filmes do gênero; no último segundo a história é resolvida. Só pra deixar os expectadores com o coração na mão mesmo, normal.
Em relação ao roteiro, o que mais gostei foi a maneira que ele explora os personagens; não temos aqui somente sequências incríveis de explosões, tiroteios e lutas, mas um desenvolvimento profundo dos protagonistas daquela história – todas performances são de altíssimo nível -, especialmente Wolverine, Mística, Magneto e Professor X. Pra falar a verdade, a história é bem focada no triângulo composto pelos últimos três, que se separaram e agora precisam se unir novamente para evitar uma catástrofe no futuro. Apesar de Trask ser o vilão, já que ele é quem cria os Sentinelas, vemos que os X-Men também têm que enfrentar a si mesmos para salvar o planeta, pois Mística foi bastante influenciada pelo temperamento severo de Magneto e este não segue muito bem os planos ao sair da prisão. Resta a Charles Xavier, Wolverine e The Beast (Nicholas Hoult) tentarem salvar o futuro através de seus poderes e, principalmente, através da lógica do primeiro e sua habilidade de convencer os demais pela conversa.
Vale ressaltar que não temos aqui algo como Alta Freqüência (2000), no qual a cada mínima mudança no passado o futuro é alterado. À medida que o passado vai sendo alterado pelas ações de Wolverine, vemos o futuro permanecer o mesmo; somente no desfecho que vemos, de fato, a mudança ou não do destino dos mutantes. Eu não tive muitos problemas com isso, pois, sinceramente, não acredito que os Sentinelas teriam sido diferentes enquanto a missão estava em andamento. Naquele curso, ainda não alterado como devia, a população teria medo dos mutantes da mesma maneira e o governo investiria no projeto de Trask da mesma forma, resultando nos monstros assassinos dos próximos 50 anos. Picuinha demais exigir que a cada instante o futuro mudasse com base nas novas ações realizadas.
Talvez o que me incomodou mais tenha sido uma falta de exploração do personagem interpretado por Dinklage. Trask ficou como que um mistério pra mim, algo que oscila entre vilão e não vilão: ele é um cidadão que tem medo do que os mutantes possam fazer e quer evitar uma catástrofe no futuro. Para isso, utiliza seus conhecimentos científicos para desenvolver um robô capaz de eliminar esses seres que tanto o encantam e espantam ao mesmo tempo. Ele tem compaixão, mas quer destruí-los? Gostaria de ter visto um pouco mais sobre Trask e sua história pra compreendê-lo melhor; os diálogos ajudam, em especial um com Bill Stryker (Josh Helman), só que acho que faltou mais espaço pro personagem, com base no tamanho da importância dele ali.
X-Men: Days Of Future Past é uma aula de como fazer adaptações de super-heróis. Aula de como escrever uma história extremamente complexa e conseguir contá-la na telona de maneira clara e inteligente; como explorar os sentimentos mais sombrios e bondosos dos personagens; e como fazer cenas de ação eletrizantes, triunfais e coerentes com o que está acontecendo. Os créditos começaram a rolar e já deu vontade de fazer igual ao Michael Newman de Click: pegar o controle remoto e passar o tempo pra frente até maio de 2016, quando estreia X-Men: Apocalypse.
OBS: Já é de praxe de filmes da Marvel, mas deixo você avisado (a) de que tem cena pós-créditos.
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