quarta-feira, 21 de maio de 2014

Resenha: Praia do Futuro

Imagem: Reprodução/Cine Marcado

Eu aguardava ansiosamente pra ver Praia do Futuro. Tipo, muito. Não só porque tem o Wagner Moura no elenco e foi selecionado para o Festival de Berlim, mas porque o trailer me chamou muito a atenção. Só que o resultado que vi na telona não atendeu às minhas expectativas; pelo contrário.

Dirigido por Karim Aïnouz e com roteiro dele e Felipe Bragança, o drama é sobre um salva-vidas que resgata um piloto alemão de um afogamento, mas não consegue fazer o mesmo por seu amigo. Com o passar do tempo, os dois, Donato (Moura) e Konrad (Clemens Schick), constroem uma relação amorosa e vão viver juntos em Berlim. Porém, a família que o brasileiro largou em Fortaleza volta oito anos depois através de Ayrton (Jesuíta Barbosa), seu irmão mais novo, quem o considerava um herói no passado.

A história é comovente e atraente, isso não posso negar. Ela não apenas explora o amor entre dois homens, como também a relação fraternal, de irmão para irmão. Afinal, temos aqui um personagem que deixa sua vida no Brasil para trás e vai viver do outro lado do Atlântico com uma pessoa que conheceu há pouco tempo. É claro que quem ele deixou sentiu sua falta e foi afetado por isso; a prova disso é a ida de Ayrton em busca do irmão mais velho que tanto admirava.

Outra coisa que achei interessante foi os roteiristas dividirem o enredo em três partes, a partir do acidente que leva ao encontro do casal protagonista, o relacionamento de ambos e a mudança pra Alemanha, e a chegada de Ayrton ao país anos mais tarde. Além disso, a trilha sonora de Hauschka e a fotografia de Ali Olay Gözkaya são de altíssimo nível e nos ajudam a se envolver com o que se passa na tela. A sequência final, por exemplo, achei belíssima.

Elenco? Nossa, brilhante. O trio que estrela a produção faz seu trabalho com louvor. Temos diversas cenas bem feitas tecnicamente e interpretadas de maneira intensa e sincera pelos atores, como o reencontro violento dos irmãos em Berlim, uma cena romântica em que Donato e Konrad cantam “Aline”, do francês Christophe, ou a primeira conversa que estes têm depois que fazem sexo pela primeira vez. Partes memoráveis, sem dúvidas.

No entanto, o problema de Praia do Futuro está no mais importante: o roteiro e a edição. A película é mais regada à imagens do que diálogos, tendo, assim, muitas conversas breves ou nenhuma fala; algo que Aïnouz explora bastante aqui são as expressões de seus atores, suas trocas de olhares e cenas de toques, de contato humano, as quais combinaram bem com a história contada. Não há nada de mal nisso. Pra ser sincera, acho até uma ótima ideia. A falha está no fato de que as cenas paradas e, em alguns casos, sem nada de muito útil acontecendo, transitam o tempo todo e não são muito bem desenvolvidas. Isso cansa e você sente falta de mais conteúdo, mais explicação do que se passa; as imagens não são suficientes.

Por isso que eu, por exemplo, fiquei bastante incomodada com tal monotonicidade e estava impaciente na cadeira o tempo todo. Era cena de sexo, para cena de café da manhã, para cena em um jardim, para cena em um quarto, para cena em um trem, e isso com pouquíssimos diálogos que nos orientassem. No último capítulo então, eu fiquei bem perdida, especialmente porque muita coisa muda na vida dos personagens e eu não entendi como isso se deu, de fato. Tive quase que a mesma experiência do péssimo To The Wonder, de Terrence Malick. Quase, pois os atores e a trilha sonora de Praia do Futuro são bem melhores e a história é mais cativante.

Em outras palavras, é como se você entendesse a história, mas não compreendesse os personagens como um todo. E quando você não compreende estes, você não entende o porquê de suas ações e, conseqüentemente, o desenrolar do roteiro. A sensação que eu tive foi de incompletude. Quando os créditos começaram a rolar, ficou aquele questionamento “mas e aí?”. Eu queria mais porque o roteiro não chegou ao fim, não chegou naquele momento de dizer adeus ao expectador.

Praia do Futuro foi uma decepção justamente por isso e saí do cinema insatisfeita. Porém, também acho que criei expectativas demais e quando elas não atingidas o baque é maior. Portanto, digo só que o filme não emplaca. Vale a pena conferir porque Moura, Barbosa e Schick estão sensacionais e dão vida aos seus personagens impecavelmente. A fotografia é encantadora e posso dizer que até compensa um pouco o problema de desenvolvimento do enredo.

Se você não tem paciência para filmes parados e com poucos diálogos, não recomendo. Se gosta de experimentar novas maneiras de ver uma história no cinema, acho que pode ser um longa interessante, mesmo com suas falhas. Eu não gostei, mas você pode aprovar.









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