sábado, 15 de fevereiro de 2014

Resenha: American Hustle

Imagem: Reprodução/Ruthless Reviews

Então, vi American Hustle (Trapaça, Estados Unidos, 2013) e não tem nada demais. Sim, o filme de David O. Russell é divertido, bem feito, tem uma trilha sonora excitante, um elenco fenomenal e um figurino de altíssimo nível, mas, no fim das contas, é mais um filme Hollywoodiano que está concorrendo ao Oscar mais em função de politicagem e divulgação do que de qualidade.

Eu não conhecia Russell até assistir Silver Linings Playbook em 2013 e tive uma ótima primeira impressão do cineasta ao ver o longa. É uma produção independente recheada de humor, com personagens cativantes e uma história comovente sobre as pequenas coisas que nos fazem felizes no dia a dia. Ainda acho que Jennifer Lawrence não mereceu o Oscar – ela devia ter ganhado por Winter’s Bone em 2011 -, só que foi uma película gostosa, fácil de se identificar com o público e que mereceu todo o reconhecimento que teve.

Agora, American Hustle não tem nada que me faça dizer: “Nossa, assista esse filme porque você vai se encantar e ele irá lhe marcar para sempre”. O roteiro é praticamente original, baseado levemente – nos créditos iniciais há um aviso de que algumas coisas da película aconteceram de verdade – na operação ABSCAM no fim da década de 1970. Nela, o FBI começou investigando artes falsificadas e roubadas, mas, no fim, tornou-se um caso de corrupção política, o qual contou com ajuda do criminoso Melvin Weinberg e um falso sheik para efetuar a prisão de diversos políticos.

Em Trapaça, Weinberg é Irving Rosenfeld (Christian Bale), um homem que, entre outras coisas, vende pinturas falsificadas e decide entrar no ramo de empréstimos junto da amante Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são mestres na arte da enganação e começam a faturar tanto que chamam a atenção do FBI e acabam sendo flagrados pelo agente Richard DiMaso (Bradley Cooper). Em troca de liberdade, o policial pede a ajuda de Irving para realizar mais quatro prisões, algo que toma proporções maiores e acaba envolvendo o popular prefeito de Camden, Carmine Polito (Jeremy Renner), um falso sheik e até mesmo a máfia italiana, com breve participação de Robert De Niro, é claro. E, para piorar, a rebelde esposa de Irving, Rosalyn (Lawrece), entra no meio e ameaça estragar tudo.

Trapaça faz jus ao seu título. O que mais vemos na telona são enganações e mais enganações e tenho que dizer que Bale e Adams formam uma dupla perfeita. Ele, com sua peruca perfeitamente colada na cabeça, bom papo e um barrigão; ela, com seu charme e sensualidade. Não espere cenas de ação, pois não temos quase que nada aqui, com exceção da parte em que a máfia entra. Em toda sua duração, a película atrai pela trama inteligente e ágil, belíssimos looks dos anos 70 e uma trilha com direito a Duke Ellington, Donna Summer, Wings, Elton John, America, entre outros mais. A direção de Russell também é de altíssimo nível, com destaque para os planos fechados que ele usa nos atores e na iluminação das cenas mais, digamos, quentes, protagonizadas por Adams. A atriz nunca esteve tão sexy e glamorosa!

Em relação aos coadjuvantes, Cooper está bem, mas chama mais a atenção por seus bobes no cabelo do que por sua interpretação. Ele até que é engraçadinho, mas seu personagem é meio confuso e nunca entendemos bem sua história e atitudes. Lawrence, esta sim, brilha com a divertida e sem limites Rosalyn; acho que ela até merecia mais espaço na trama, pra ser sincera, pois ela que traz humor e cativa o expectador. Em Hustle, a jovem prova, mais uma vez, que é uma atriz versátil e que pode interpretar uma enorme variedade de papéis. Apenas Renner, a meu ver, que não se sobressai de maneira alguma. Gosto muito do ator e foi bom vê-lo em um filme que não seja de ação, mas seu personagem é bem desinteressante; perto dos outros, fica no chinelo. Deixo claro que a culpa não é do ator, mas dos autores do roteiro: Russell e Eric Warren Singer.

Praticamente, só falei coisas boas até agora. Então, por que Trapaça não mereceu todo o reconhecimento que teve? Bom, em termos técnicos, como direção, figurino, maquiagem e trilha sonora, ele é excelente e faz jus às indicações e prêmios recebidos. Os atores também fizeram um trabalho sensacional. Porém, a história não tem nada de incrível. Quando analisamos produções renomadas, imaginamos, pelo menos eu, filmes que nos marcam, seja por seus toques artísticos, originalidade, capacidade de nos comoverem, mensagens ou interpretações inesquecíveis. A filmagem é boa, mas Russell não faz nada grandioso; a história, mesmo com seu baixo teor adaptativo, não tem nada de diferente pra chamar a atenção; na há nenhuma mensagem que consegui identificar e que fosse de grande importância; e os personagens, mesmo cativantes, não têm o poder de nos conquistar como um Ferris Bueller ou Holly Golightly, por exemplo.

American Hustle é um ótimo entretenimento e concordo com muitos dos elogios que tem recebido da crítica e do público. Só que, no fim das contas, sabemos que ele está onde está mais por causa da popularidade do diretor e elenco, todos atualmente queridinhos em Hollywood, do que pela qualidade em si. Antes mesmo de ser lançado, ainda durante suas filmagens, o filme já estava sendo cotado como um dos favoritos para a temporada de premiações. Agora me diz: que graça tem isso?







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