Imagem: Reprodução/Roger Ebert |
Dos filmes mais badalados de 2013, tenho que admitir que Nebraksa era um que eu não tinha muita vontade de ver. Vendo imagens e o roteiro, pensei que seria um longa lento e cansativo, ainda mais com o preto e branco. Porém, tive uma enorme surpresa ao ver a produção dirigida por Alexander Payne e posso dizer que é uma linda história sobre família, respeito, união e, sobretudo, amor. E que é bastante reflexiva e engraçada, por sinal.
Nela, vemos Woody Grant (Bruce Dern), um humilde homem de Montana, que recebe uma carta em seu nome com uma promoção que pode lhe dar um milhão de dólares, mas que acaba entendendo que havia sido o vencedor. Teimoso do jeito que é, ele resolve caminhar de Billings, sua cidade, até Lincoln, no estado de Nebraska, a fim de buscar a recompensa. Mesmo após muita insistência da esposa e filhos em tentar colocar juízo na cabeça dele, Woody insiste tanto até que o filho mais novo, David (Will Forte), resolve levá-lo de carro na jornada.
A partir daí, acompanhamos a longa viagem dos dois e uma breve passagem por Hawthorne, que vai ser palco de uma reunião nostálgica do protagonista com sua família e antigos amigos, já que é sua cidade natal. Porém, um encontro que era pra ser alegre, mesmo com a personalidade tímida e rabugenta de Woody, acaba tornando-se um momento marcante na vida dele, só que não necessariamente para o melhor em muitas partes. Afinal, ele está de volta ao lugar em que nasceu, mas, tecnicamente, milionário, o que vai atrair bastante atenção dos habitantes locais, especialmente os interesseiros.
Por que preto e branco? Bom, o diretor respondeu à tal pergunta no Festival de Cannes de 2013 dizendo que ele simplesmente sentiu que era o certo para o filme e porque ele sempre quis fazer um longa do tipo. No primeiro caso, tenho que concordar com Payne; o cenário monótono, de cidade pequena do interior, aliado à vida devagar e tranquila dos personagens do roteiro, combinou perfeitamente com as duas cores. Estas ajudaram a captar bem o clima da aventura de Woody em busca de seu um milhão. Eu entendo que muitas pessoas podem ter preguiça ou desânimo mesmo em querer ver um longa como Nebraska, mas sugiro que lhe deem uma chance e lembrem que cinema sem aquele tanto de cor na tela não deixa de ser cinema, portanto, não deve deixar de ser saboreado.
Além disso, os temas que o roteirista Bob Nelson aborda aqui são bastantes relevantes e comoventes. O principal deles é a família e o quanto ela é importante para nós nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Woody é alcoólatra, não dá atenção aos filhos e briga com a esposa o dia inteiro, mas é um homem que lutou pelo país, tem cicatrizes do passado e que é, acima de tudo, bondoso. Fica claro no longa que ele é aquele tipo de pessoa ingênua, que faz tudo para tentar ajudar o outro e não enxerga o mal ou interesse que muitos têm por trás disso e que podem se aproveitar da situação depois. Quando Nelson resolveu colocar o entediado David para acompanhar o pai, vemos que seu objetivo era mostrar que família é isto: nas horas boas e ruins, ela estará sempre conosco; os laços entre os parentes são praticamente impossíveis de serem quebrados.
O amor também entra aqui para mostrar que nem todo relacionamento precisa ser perfeito. A rotina de Woody e Kate (June Squibb) pode parecer chata e até assustadora pra quem imagina um casamento repleto de felicidades e romance, mas, no fim, percebemos que aquele é o jeito deles serem; aquele é o casal Grant, mesmo com todas as imperfeições de cada um e os problemas que enfrentam todos os dias. Se Woody é teimoso e prestativo até demais, Kate não tem papas na língua e não leva desaforo pra casa. Pra ser sincera, é um dos pares mais engraçados que já vi na telona! Nebraska pode parecer um dramalhão, mas ele é recheado de cenas hilárias, a maioria protagonizada pelo casal. Os aproveitadores sobrinhos de Woody também provocam boas risadas, diga-se de passagem.
Outro destaque, obviamente, são as performances. Se o roteiro de Nelson já é aprofundado, desenvolvido de maneira clara e com personagens bem construídos, a maneira com que o elenco dá vida aos últimos contribui para o sucesso do longa. Dern está impecável; tão impecável que é difícil não se identificar com sua carismática interpretação de Woody. Pra você ter noção da simplicidade do homem, ele usaria o "prêmio" pra comprar uma caminhonete - ele não dirige - e um compressor novo. E só. Squibb dá um tom mais escrachado à produção com seu jeito debochado, fofoqueiro e direto, dando um tom mais agradável para quem está assistindo.
Forte não tem um personagem divertido como os anteriores, mas nos comove muito bem com sua atuação. O clímax e desfecho do filme então...difícil não se emocionar com ele. Bob Odenkirk, que dá vida ao irmão de David, Ross, talvez seja o mais, digamos, apagado da história. Como acompanhamos mais Woody e David, eles acabam ganhando mais destaque, e Ross não tem uma personalidade divertida como a de Kate para nos entreter e nem uma cena marcante sozinho. Em compensação, ele participa de uma das partes mais engraçadas do longa.
Nebraska não é um filme atraente à primeira vista. Quando você o coloca ao lado de produções mais comerciais, como Gravity, The Wolf Of Wall Street e American Hustle, fica difícil optar por ele na hora de comprar um ingresso. No entanto, mesmo sem um apelo tão forte ao público, é um drama que conta uma belíssima história familiar e justifica o enorme valor que a família tem em nossas vidas. Ele é até um bom longa pra quem tem dificuldade de relacionamento com os pais ou parentes mais próximos, pois mostra que as diferenças e conflitos, no fim das contas, não são nada quando existe um sentimento de amor entre as pessoas. Ademais, a película dá uma boa lição de moral em quem tenta se aproveitar da ingenuidade dos outros.
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