segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Entrevista: Hugo de Almeida Harris

Imagem: Arquivo Pessoal

Na última sexta-feira, tive a oportunidade de entrevistar Hugo de Almeida Harris, jornalista e cineasta, mestre em Comunicação e Semiótica e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O tema da entrevista era o cinema nacional e internacional em 2013, abordando temas como bilheteria, filmes independentes e temporada de premiações. Confira como foi o papo do O que rola no cinema? com o especialista.


O ano de 2013 foi considerável nas bilheterias brasileiras, em termos de arrecadação. O Homem de Ferro 3, maior arrecadação do ano, passou dos R$ 95 milhões, enquanto, entre os brasileiros, Minha Mãe é uma Peça chegou perto dos R$ 50 milhões. A que você associa essa quantidade enorme pessoas indo aos cinemas no país?

Não saberia lhe dizer com exatidão, mas acho bom haver uma boa quantidade de pessoas indo aos cinemas ver filmes brasileiros. Espero que isso estimule o público a tentar conhecer também outros filmes nossos que não tenham o apelo popular como o citado na pergunta. Isso viria a fortalecer ainda mais o nosso cinema.


O cinema nacional teve ótimos resultados, especialmente com as comédias, como Vai Que Dá Certo, Meu Passado Me Condena e De Pernas Pro Ar 2. Por que a população brasileira gosta tanto desse gênero? Você acha que os filmes de drama e ação podem chegar ao mesmo nível no futuro?

Acredito que foi encontrado um nicho no mercado cinematográfico que não era explorado desde a época de pornochanchada. A abordagem de histórias simples e divertidas, de rápida absorção, junto à utilização de atores conhecidos do grande público são formas de chamar o público.


O Ministério da Cultura escolheu O Som ao Redor para representar o Brasil no Oscar 2014, mas acabamos ficando de fora da lista final. Você concordou com a seleção da entidade? Por quê?

Concordo com a escolha.“O som ao redor”é um filme que teve ótima repercussão no exterior, possui qualidades narrativas e poderia fazer um bom papel no Oscar. Porém, ficamos fora da seleção final, o que faz parte, pois os outros concorrentes também eram muito bons.


A Imovision foi uma distribuidora bastante importante em 2013, trazendo filmes como Blancanieves, La Vie D'Adèle, Pais e Filhos, Os Belos Dias e o brasileiro Tatuagem. Porém, a distribuição de filmes independentes ainda é muito pequena no país. O que você acha que deve ser feito para ampliá-la ainda mais?

Há certa dificuldade nesta questão. Explico. Para que você possa estimular as empresas distribuidoras precisa haver um mercado para elas atuarem. Mercado significa pessoas que queiram assistir a estes filmes. Por outro lado, para que haja pessoas interessadas em assistir a estes filmes, elas precisam ser ensinadas a gostar deles, e para isso estes filmes têm que estar disponíveis. Estamos num círculo vicioso. Trata-se mais de uma questão cultural, antes de qualquer coisa.


A programação dos cinemas comerciais do país ainda é majoritariamente internacional, sobretudo estadunidense. Você que acha que, algum dia, as bilheterias brasileiras vão ter uma grande fatia de sua arrecadação originada de produções locais, algo que vem acontecendo na China, por exemplo?

Acredito que não.


Em 2012, Argo foi o queridinho da imprensa desde seu lançamento no festival de Telluride e levou a melhor no Globo de Ouro, BAFTA e Oscar. Em 2013, algo semelhante vem ocorrendo com Gravidade, 12 Anos de Escravidão e American Hustle. Você concorda com a afirmação de que, a cada ano que passa, a temporada de premiações vem se tornando cada vez mais previsível?

Bom, vamos tomar cuidado, pois hoje ainda é dia 10 de janeiro e nenhum destes três prêmios foi dado ainda. Sim, as indicações demonstram que há uma possibilidade grande destes três filmes dividirem premiações. Eu não diria que a cada ano que passa fica mais previsível. Sempre há certa previsibilidade, pois os votantes também são influenciados pela imprensa. Porém, há vezes que acontecem algumas surpresas (algumas positivas, outras negativas), o que dá a graça e a curiosidade para alguns destes prêmios, até mesmo para o Oscar.


Com base nos indicados ao Globo de Ouro, Critics' Choice e BAFTA, você acredita que a Academia vai surpreender em sua lista como o fez em alguns casos no ano passado? Ou não teremos grandes surpresas?

Acredito que não teremos grandes surpresas. O que incomoda é que muitas vezes chama-se a atenção para certo favoritismo de algum filme deacordo com o número de indicações que ele recebe. Não é isso o que vai valer (basta olhar o número de indicações de “Argo” no ano passado e de “Lincoln”, que não ganhou). Dos filmes indicados, os três que você tem chamado atenção realmente são os favoritos, mas poderemos ter surpresas com filmes como “Inside Llewyn Davis”, “Rush”e “Her”.


Assim como 2012, 2013 teve uma quantidade enorme de filmes de altíssimo nível concorrendo na temporada de premiações. Nessas horas, o que você acha que leva alguns filmes a se sobressaírem sobre os outros e serem inclusos nas listas finais?

Esta é uma tática antiga das produtoras e distribuidoras. Os filmes que eles acreditam terem um perfil mais adequado para premiações sempre são lançados no final de ano. Claro que sempre há um ou outro filme que não é lançado nesta época e acaba surpreendendo. Mas estes são exceções. As produtoras conhecem o produto que fizeram e definem a estratégia de lançamento já projetando as possíveis premiações.


O que você espera de 2014, tanto em relação ao cinema nacional, quanto ao internacional?

Não espero nada diferente daquilo que já tem sido feito, para ser bem sincero. Agora, eu desejo que haja ainda mais espaço para o nosso cinema nacional mostrar seus filmes e que não demore tanto para alguns filmes estrangeiros aparecerem por aqui.


Por último, gostaria que você fizesse uma lista dos melhores filmes de 2013, segundo o seu ponto de vista.

Gravidade, de Alfonso Cuarón

Azul é a cor mais quente, de Abdellatif Kechiche

A caça, de Tomas Vinterberg

Rush, de Ron Howard


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