sábado, 25 de janeiro de 2014

Resenha: The Wolf Of Wall Street

Imagem: Reprodução/Doddle Me

Overdose de drogas, sexo, perigo e luxo. De certa maneira, enquanto assistia a The Wolf Of Wall Street (O Lobo de Wall Street, EUA, 2013), lembrei-me de outros dois filmes lançados ano passado, os quais mostram coisas parecidas com as que o sempre brilhante Martin Scorsese mostra aqui. São eles: Behind The Candelabra e The Bling Ring. O primeiro porque Steven Soderbergh nos infiltra na vida excessiva de Liberace, similar à de Jordan Belfort, e o de Sofia Coppola porque, a meu ver, faz uma forte crítica à vida irresponsável e superficial de pessoas que não se contentam com a vida que têm e sempre querem mais e mais e mais.



Apesar de muitos dizerem que Scorsese glorifica o comportamento de Belfort, não vejo dessa forma. O diretor, sim, mostra a vida intensa e pesada do dono da corrupta Stratton Oakmont, marcada por atividades ilegais, prostitutas e muitas, muitas drogas. Além disso, ele fez uma biografia extremamente hilária, com cenas e diálogos de chocar a plateia ou fazê-la bater palmas e rir até sentir dor na barriga. Como não rir de Leonardo DiCaprio na parte em que rasteja até sua Lamborghini, pois está drogado demais, ou derruba um helicóptero no jardim de sua casa, ao tentar fazer uma aterrizagem claramente drogado? Ou quando Jonah Hill se masturba na frente de todo mundo em uma festa ou come o peixe de um funcionário da corretora? Vou ser sincera: nunca pensei que Scorsese me faria rir tanto.

Ter tornado a biografia de Belfort uma comédia e um ótimo entretenimento faz de The Wolf Of Wall Street uma produção que o torna um herói? Se tem uma coisa que o cineasta faz durante as três horas de película é condenar o comportamento do homem, que foi preso no fim da década de 1990 e condenado a pagar $ 110 milhões às suas vítimas. Ele faz isso através do humor e é por isso que é tão genial. Adorei o fato de algumas cenas serem uma conversa direta do protagonista com a gente, a qual ajuda a nos explicar o porquê dele fazer aquilo tudo.

Pense bem: depois de sair do cinema, você realmente gostaria de ter uma vida daquelas? O cara tinha tanto dinheiro, que não sabia o que fazer com ele. Pode-se dizer que Mark Hanna (Matthew McCounaghey) teve um papel importante nisso, pois parece que tudo que ele disse no filme foi verdade. Para ele, o segredo para o sucesso naquele ramo era masturbação, cocaína e prostitutas, coisas que um jovem Belfort faria de sua rotina diária poucos anos depois e que quase destruiriam sua vida.

Outra crítica de Scorsese vem ao cotidiano da empresa milionária e seus empregados. Operações ilegais, métodos de venda maléficos, aproveitando a falta de conhecimento de mercado de pessoas inocentes, orgias no escritório, avião e festas, sempre com muitas drogas e locais luxuosos. Apesar de Daniel Porush (Hill) – no filme, seu nome foi alterado para Donnie Azoff, após ele ameaçar o estúdio se usasse seu nome – negar coisas apresentadas na telona, como ter amarrado dinheiro no corpo de uma mulher e animais no escritório, ele admite ter comido o peixe de um corretor e que a cena da mulher que raspou a cabeça por $ 10 mil também existiu. Imagine trabalhar em um lugar desses? Na hora que você assiste acha super divertido, ainda mais quando Scorsese coloca determinadas cenas em câmera lenta, mas pense se fosse você ali.

Ah, os discursos do personagem na película também aconteceram na realidade. Na verdade, depois de passar apenas 22 meses na prisão – ele foi condenado a quatro, por ter ajudado na investigação -, ele vive de discursos motivacionais, além de ter ganhado uma boa quantidade de dinheiro com os dois livros que escreveu sobre sua vida – o filme é baseado em um deles – e com os direitos vendidos para a realização da adaptação cinematográfica.

E as pessoas que ele prejudicou, enquanto ganhava milhões e milhões? Bom, em sua sentença, ele foi obrigado a pagá-las através de uma quantia de $ 110 milhões, mas ainda está bem longe de cumprir sua meta. Aproveitando as vítimas, está aí um ponto que The Wolf Of Wall Street deixa a desejar. Tudo bem que ele é baseado em um livro de Belfort e conta muitas das aventuras, loucuras e bizarrices pelas quais ele passou nas décadas de 1980 e 1990, mas Scorsese falhou em mostrar, nem que seja brevemente, as conseqüências das ações do “lobo” – Porush nega que ele era chamado assim – na vida das pessoas que enganou covardemente só para ganhar dinheiro. Até no heróico Captain Phillips, Paul Greengrass deu uma chance, mesmo que minúscula, dos piratas mostrarem suas razões para o sequestro. Aqui, o diretor só foca em Belfort.

Outra coisa que não me agradou muito foi a cena final, que até conta com uma breve participação de Jordan. Entendemos que o protagonista faz discursos hoje em dia e, pelo menos espero, aprendeu com os erros do passado; só que e o resto? Faltou falar que ele não devolveu grande parte do dinheiro que deve às suas vítimas e que ficou preso pouquíssimo tempo, por exemplo. O fim ficou meio que feliz demais pra quem fez tanta coisa ruim.

Como qualquer biografia, The Wolf Of Wall Street tem suas veracidades e imprecisões, afinal, trata-se de uma produção hollywoodiana, que está, em primeiro lugar, preocupada em vender, e é baseada nas palavras do próprio personagem principal, então o que você vê aqui é o ponto de vista dele. Colocando de outra maneira, pode ter certeza de que algumas coisas podem ter sido aumentadas ou criadas. Money, hello?

O filme é exagerado? Sem dúvidas! E muito divertido, por sinal. Sério, você passa 80% dele rindo e 20% assustado com as atitudes perigosas e irracionais de Belfort, que são ameaças não só a ele mesmo, como a todos à sua volta. No fim, acaba tornando-se um longa que serve de alerta; é difícil vê-lo e pensar: “Nossa, quero uma vida dessas pra mim”. E com performances fenomenais do elenco (Hill, Margot Robbie, Kyle Chandler, Jean Dujardin), com destaque para um DiCaprio em uma de suas atuações mais espetaculares – e bastante engraçado, coisa raríssima de se ver -, essa adaptação é uma oportunidade de não apenas rir, como também refletir sobre o que uma vida movida a excessos pode lhe trazer. Poucos instantes antes de seu iate afundar na Itália, Belfort pressiona Azoff a ir buscar drogas em um barco quase que todo cheio d’água: “Eu não vou morrer sóbrio”. Acho que isso resume tudo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário