sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

RESENHA: Soshite chichi ni naru

Imagem: Reprodução/YNOT Movies

O que é mais importante, laços de sangue ou amor? Essa pergunta se aplica muito bem ao filme Soshite chichi ni naru (Pais e Filhos, Japão, 2013). Na produção, vemos duas famílias descobrirem que seus filhos foram trocados no dia de seu nascimento e cada uma criou o filho da outra por seis anos. Com a notícia, os dois casais precisam tomar uma decisão: trocar as crianças ou deixar tudo como estava.



É difícil de acreditar que, em pleno século XXI, coisas do tipo acontecem e, no roteiro de Hirokazu Koreeda, o motivo para tal é meio bizarro e incompreensível, mas vou ignorá-lo porque a discussão feita na história é outra. O que o diretor japonês tenta nos mostrar é como que o amor vale mais do que o sangue; quantos parentes que nós conhecemos e que não têm um relacionamento forte entre si, enquanto com outras pessoas eles têm uma conexão muito mais profunda? Tudo bem que as famílias criaram os garotos pensando serem seus filhos, mas, na hora em que descobriram a verdade, consideraram trocá-los para ficarem com seus filhos biológicos, o que seria mais racional.

Trata-se de uma questão extremamente complexa e que, pra falar a verdade, deixaria qualquer pai indeciso. Afinal, um foi feito por você e seu parceiro (a) e o outro recebeu todo o seu amor durante um longo tempo e agora pode ser tirado de você. Sem mencionar o fato de que a criança também desenvolveu sentimentos e um apego com você, então, como dizer a ela que vai trocar de pais e de casa? O interessante da película é que o público se coloca no mesmo lugar de Ryota (Masaharu Fukuyama), Midori (Machiko Ono), Yukari (Yôko Maki) e Yudai (Rirî Furankî) e enfrenta junto deles os problemas que aparecem na telona. Sentimos raiva, indignação, dúvida, pena e comoção ao ver cada cena do roteiro e aprendemos muito sobre abrir mão de certas preferências individuais e dar mais atenção aos outros.

Mesmo sendo um dramalhão, Pais e Filhos nos dá alguns diálogos leves e engraçados, como o que abre o filme e alguns no meio e fim, praticamente todos protagonizados pelos pequenos Keita e Ryusei, brilhantemente interpretados por Keita Ninomiya e Shôgen Hwang, respectivamente. Não que os adultos não tenham brilho ou carisma – Yudai é super divertido! -, mas as crianças têm aquele olhar inocente e sincero e, muitas vezes, até nos surpreendem com sua esperteza e doçura. Koreeda retrata isso muito bem aqui.

Se você quer se emocionar e ter uma reflexão significativa após sair do cinema, indico o vencedor do Prêmio do Júri de Cannes de 2013 com a certeza de que você vai se sentir tocado com a história de pais e filhos apresentada. O longa é duro, direto e tem personagens de diversas personalidades, o que permite que vejamos as interessantes reações que eles têm diante de um mesmo fato (destaque para Ryota). Ademais, temos acesso à uma parte da cultura japonesa longe dos estereótipos de quimono, sushi e milhões e milhões de pessoas andando na rua, com milhares de prédios ao redor. Gostei de ver esse outro lado do país.



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