terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Resenha: August Osage County

Imagem: Reprodução/Indiewire

Não vi a peça – provavelmente nunca verei -, então apenas li seu resumo no Wikipedia e em um Fan Site e algumas críticas de quem a conhece. Com base nisso, assisti a um dos filmes mais aguardados de 2013, August Osage County (Álbum de Família, Estados Unidos, 2013). Distribuído pela The Weinstein Company, o longa de John Wells traz um elenco estelar: Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Ewan McGregor, Margo Martindale, Sam Shepard, Dermot Mulroney, Julianne Nicholson, Juliette Lewis, Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch e Misty Upham. Faço questão de citar todos porque a adaptação da peça aclamada de Tracy Letts – também autora do roteiro da película – foi divulgada praticamente em cima de seus atores, assim como ocorreu co The Butler alguns meses antes.

A história contada aqui não é muito diferente da peça de teatro. É claro que temos algumas mudanças, mas nada muito exorbitante, com exceção de uma observação feita no fim desta crítica. Aqui, acompanhamos uma reunião dos Weston em Oklahoma, depois que Beverly (Shepard), patriarca alcoólatra da família, desaparece. A amarga Violet, já na fase final de seu tratamento contra um câncer na boca e viciada em remédios, resolve chamar todos os filhos para casa e é a partir daí que a confusão começa. Com seus comentários irônicos e duros, a matriarca causa mal-estar e brigas durante toda a estadia dos parentes, além do surgimento de uma série de novidades, antes omitidas por vários membros da família, que começam a surgir na casa e vão desestabilizar tudo ainda mais.

Resultado? Bom, com um elenco desses é quase impossível termos um filme ruim; Wells teria que ser um gênio pra conseguir isso. As performances que vemos na telona são de altíssimo nível, com destaque para Streep, como sempre, Roberts – apesar de tê-la achado um pouco forçada -, Martindale, Cooper e Nicholson. Os demais também estão muito bem, preciso deixar claro, mas não chamam a atenção como os anteriores. Quem realmente tem a chance de mostrar seu talento é o quarteto formado pelas personagens Violet (Streep), Barbara (Roberts), Ivy (Nicholson) e Karen (Lewis), enquanto os secundários, especialmente os masculinos, ficam mais em segundo plano. Little Charles, interpretado por Cumberbatch, é talvez o maior desperdício do roteiro, apesar de dividir uma cena bem doce e gostosa com Ivy. Jean (Breslin) também é pouquíssimo aproveitada e bastante irritante quando aparece (vai ver o objetivo era esse, vai saber).

Devo admitir que esperava um dramalhão depois de ver o trailer, mas Letts inseriu diálogos tanto pesados e cruéis, quanto comoventes e hilários, trazendo o humor negro de sua peça à telona. A cena do jantar, no dia do velório de Beverly, por exemplo, é espetacular e mistura tudo isso mais um confronto entre Violet e Barbara pra fechar a cena com chave de ouro. Em outras palavras, é uma película que não cansa e nem decepciona; é uma história desagradável, sim, mas ela tem umas pitadas de comédia que nos fazem rir um pouco pra quebrar o gelo. Afinal, a protagonista Violet pode ser bem maldosa, mas faz isso muitas vezes de maneira engraçada e, em algumas partes específicas, até nos faz ter pena dela ao revelar coisas tristes do passado. Pra ser sincera, ela é a alma do filme; sem a performance brilhante de Streep, August Osage County não seria tão atraente. Lembrei de como é bom vê-la como vilã!

Outro ponto para o qual chamo atenção é o fim, que causou bastante polêmica quando a adaptação foi exibida ao público pela primeira vez no Festival de Toronto em setembro (SPOILERS). A peça termina com Violet na escada de sua casa, sozinha com a ajudante Johnna (Misty Upham), depois que todos abandonam a sua frieza e amargura. Porém, na versão para o cinema, a roteirista resolveu adicionar outra cena para o desfecho, a qual traz Barbara deixando a mãe e parando o carro no meio da estrada para respirar ar puro, antes de seguir em frente. Trata-se de um fim, digamos, mais feliz e esperançoso, digno de produções norte-americanas. Bom, a peça é de Letts e ela optou por colocar essa cena inédita, o que eu totalmente respeito e não vejo problema algum. Por outro lado, acredito que o fim original, mais sombrio, era o fim que os Weston mereciam. Essa família desequilibrada, sem laços e sem amor, especialmente por causa dos pais problemáticos que teve, ganharia um final coerente com a jornada bizarra que acompanhamos durante cerca de duas horas. O melhor para eles seria ficar separados mesmo e a conclusão ser Violet solitária em Oklahoma.

August Osage County mostrou ser um filme divertido e comovente; nenhuma obra de arte como muitos esperavam, mas uma produção que conta com elenco e atuações de primeira linha. Mesmo com a falta de profundidade em determinados personagens, como Karen, Little Charles e Jean, a “monstra” Violet rouba a cena e faz a adaptação. Vale a pena ver por Meryl Streep.



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